Em um 14 de agosto marcado pelo sopro do Minuano, há 106 anos, nascia no interior de Dom Pedrito, mais precisamente na localidade do Bolicho da Pedra, Aristides Caetano Dutra. Médium, vidente, curandeiro, médico dos pobres, apóstolo do bem: foram muitos os títulos que o acompanharam pela vida, uma existência marcada pela generosidade, sensibilidade e amparo aos mais necessitados. Uma trajetória guiada pela fé.
Figura marcante na história da Capital da Paz, mesmo mais de três décadas após sua morte, Aristides permanece vivo na memória daqueles que o conheceram ou se tornaram devotos do ‘santo pedritense’, a quem são atribuídas inúmeras graças e milagres.
O despertar da mediunidade
Filho de José Antônio Dutra e Maria Antônia Caetano Dutra, Aristides ficou órfão de pai aos cinco anos. Como a família era numerosa – eram nove irmãos – começou a trabalhar ainda na infância para ajudar no sustento da casa. Fez de tudo um pouco e, numa dessas andanças, aos 18 anos, foi parar em Santa Maria, como operário da via férrea.
Conta-se que, nesse período, ficou cego. E que em meio ao distúrbio, teve uma visão de Nossa Senhora Aparecida. Na epifania, a padroeira do Brasil lhe mostrou uma planta que ficava na porta da casa onde vivia, e lhe recomendou que passasse a erva nos olhos. Munido de fé, assim ele o fez. E voltou a enxergar.
“Passado algum tempo ele começou a curar pessoas, indicando chás e remédios naturais, era o dom da vidência que se manifestava”, escreveu Maria Izabel Vasconcellos em um capítulo dedicado a Aristides no livro Dom Pedrito: ontem, hoje e sempre (2008). Ainda segundo a autora, ele também fazia previsões com base na data de nascimento daqueles que o procuravam.
Internação
Em uma época marcada pelo preconceito e pela perseguição a tudo que fugisse dos padrões considerados ‘normais’ pela sociedade, Aristides foi tido como louco durante sua passagem pelo Exército Brasileiro, sendo internado em Porto Alegre. Os médicos, no entanto, não conseguiram diagnosticar nenhum distúrbio mental.
Não se sabe por quanto tempo ele permaneceu internado e nem a quais tipos de exames foi submetido.
Uma vida a serviço do outro
De volta a Dom Pedrito, aos 30 anos, Aristides se submeteu a uma espécie de retiro espiritual, vagando durante 40 dias pelas matas próximas ao Rio Santa Maria. Após esse período, sua ‘fama’ como médium se consolidou. Ele retomou os atendimentos, e o número de pessoas em busca de auxílio espiritual – ou mesmo de uma palavra de conforto – crescia a cada dia e seu nome se espalhava Rio Grande do Sul afora.
Diante dessa nova realidade, fundou na Rua Princesa Isabel o, hoje extinto, Centro Espírita Jesus de Nazaré, onde atuou durante toda a vida.
É importante destacar que Aristides jamais cobrou pelos atendimentos. Quando alguém insistia em lhe oferecer dinheiro, presentes ou objetos de valor, ele os distribuía aos pobres. Muitas vezes, pessoas chegavam da campanha sem condições sequer para uma hospedagem na cidade, e ele os acolhia em sua casa. Em alguns casos, ainda custeava os remédios, homeopatias e ervas que receitava.
Desafiando a ciência – já que muitas pessoas chegavam desenganadas pela medicina, sendo carregadas nos braços por familiares, e saíam caminhando das sessões – foi acusado de curandeirismo e charlatanismo. Mas nunca se deixou intimidar, e seguiu usando seus dons em benefício do próximo até o fim da vida.
Santo Popular
Aristides Caetano Dutra morreu no dia 25 de abril de 1986, aos 66 anos. Seu corpo foi sepultado no Morro da Serrinha, atendendo a um pedido dele próprio. Ainda de acordo com o livro Dom Pedrito: ontem, hoje e sempre “Ele sempre disse que quando partisse da terra, queria ser enterrado na Serrinha, para que pudesse lá do alto olhar o seu rebanho”.
O túmulo de Aristides se tornou um local de devoção e peregrinação, repleto de placas e homenagens ao santo popular pedritense.
Oração ao Apóstolo do Bem
Senhor! Recebei no reino da paz e da luz, a alma do vosso servo Aristides Dutra, que por vossa disposição passou desta vida e que ele interceda junto a Vós em favor da graça que desejo receber. (Fazer o pedido)
Aristides Dutra continua um servidor de Cristo. Só pela fé chegaremos a Deus.
Pai Nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino, faça-se tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixeis cair em tentação; mas livra-nos do mal.
[Pois tu é o reino, o poder e a glória para sempre].
Por Nosso Senhor! Amém.
* Conteúdo publicado originalmente na edição impressa do Folha de 9 de agosto.
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