"Para eu seguir sendo vice-prefeito, só dizendo amém, mas tem CCs e secretários que mandam mais do que eu", afirma Alberto Rodrigues

Alberto, ao lado do ex-secretário de Agricultura do Estado, Odacir Klein

Na quarta-feira, o Folha publicou entrevista com o prefeito Mário Augusto de Freire Gonçalves, onde ficou deflagrado um 'racha' na relação entre o chefe do Executivo e o vice-prefeito Alberto Rodrigues. Como contraponto. a reportagem conversou, nesta quinta-feira, com o vice-prefeito, onde ele rebateu e explicou diversos pontos do que foi dito pelo prefeito, entre outras coisas, respondendo questões sobre os 'bastidores do poder', conflagrando que o tabuleiro político já está se movimentando.

Eleições no PDT, racha no governo, trabalho na Secretaria de Obras, futuro, entre outros assuntos comentados por Rodrigues, confira:

Folha: como está a coligação?

Alberto: primeiro, quero dizer que a coligação, o próprio prefeito ontem (quarta-feira) falou que a coligação com o PDT está totalmente inserida no governo, porque o presidente é o Perico. Primeiro que o Perico (Antônio Carlos Vicente e Silva) não é o presidente, hoje. O PDT está sob júdice. O prefeito falou que eu escolhi outro caminho, mas na verdade, depois, em nossa conversa, vamos esclarecer esse ponto, e que o PDT está com ele, por que o Perico está, que eu e meu grupo não estamos com ele, mas só que eu faço parte do PDT e eu sou a maior liderança do partido, até que provem o contrário.

Inclusive, aquela entrevista que o Perico deu ao Folha da Cidade, que ele falou desmentindo que o PDT só estava na fila lá para a eleição ser homologada. Eu estou propondo ao Folha da Cidade entrar em contato com a Justiça Eleitoral, vou dar um telefone do PDT (da Coordenadoria Estadual), pois é o único partido em Dom Pedrito que foi feita convenção, que está irregular, por que não foi homologada. Quem quiser, é só ligar para o partido em Porto Alegre e vai constatar a veracidade. Nós estamos falando a verdade, mas o pessoal vem aqui, mente para o Folha. A convenção do PDT, antes de agosto, não será homologada. Dificilmente aquela eleição não será anulada, pois entendemos que há vários vícios. O que falo é a verdade, não vou vir aqui mentir. Só tem sete municípios (em que as eleições) não foram homologadas, pois há irregularidades.

Folha: o senhor diz que ainda é a maior liderança do PDT, que de certa forma concordo, pois não deixaste o partido ainda. Por que na noite da eleição o senhor anunciou que deixaria a sigla partidária?

Alberto: eu estava de cabeça quente. Houve várias irregularidades na eleição, onde eu fiquei muito chateado. Eu já teria ligado antes para o partido, embora eu fosse eleito presidente, nós teríamos, sim, que modificar o Conselho Fiscal e o Conselho de Ética, que foram mudados esses nomes e a gente assinou ali, na 'hora do barulho', onde foram mudados todos os nomes. Fiquei muito chateado. Falei de cabeça quente que sairia do PDT. Não era nossa intenção. Não foi porque a gente perdeu a eleição do diretório, não foram os filiados, pois quando foi à eleição com mais de 2.000 filiados, em 2015, ganhei o pleito juntamente com os meus amigos. Agora, foi uma eleição só de 45 pessoas, sendo que praticamente a metade dessas pessoas estão empregadas no governo.

Folha: quando começou o 'racha' entre o senhor e o prefeito?

Alberto: não que começasse um racha, mas um desconforto, quando eu saí da Secretaria de Obras, que eu saí contra minha vontade, foi para não romper a coligação. Quando fui para a Secretaria de Obras, tinha centenas de reclamações por dia, todos sabem, pois a cidade estava abandonada. Levei para meu adjunto o atual secretário, Clodoaldo Santos, que tinha sido escorraçado do Parque de Máquinas, naquela ocasião, trabalhava no porão da Secretaria de Educação, com um 'CC 2'. Falei ao Mário: eu vou para lá, mas quero o Clodoaldo junto comigo. Ele (Clodoaldo) sempre se mostrou honesto, trabalhador e competente. Nunca fizemos politicagem, nunca colocamos nada no nosso face (Facebook). Fizemos centenas de obras e melhorias na cidade e nunca fomos para as redes sociais. Por ciúmes de algumas pessoas que entendiam que eu estava crescendo muito e que estava atendendo muitos pedidos dos vereadores da oposição, mais que os da situação, principalmente do vereador Luiz Carlos Pinto Cruz (Caio), do MDB, sendo que vocês podem conferir, nos pedidos de providência, que os vereadores da oposição fazem muitos mais pedidos que os parlamentares da situação. Nunca olhei o cabeçalho do pedido, olhava apenas a urgência, porque aquele pedido, na realidade, não é do vereador, é da comunidade. Sempre atendi a todos com igualdade. Houve, sim, uma 'ciumeira', que eu estava beneficiando os vereadores da oposição mais que os da situação. Para não romper a coligação, eu pedi para sair da Secretaria de Obras. Não saí por que eu quis, saí contrariado para não romper a coligação. Não tenho vaidades, muita gente sugeriu para ficar lá. Muitos do governo disseram que eu estava crescendo muito, inclusive, minha assessora ouviu isso.

Folha: o senhor é o vice-prefeito, uma das autoridades do município. Como se enxerga atualmente no cargo? Não fica tolhido com o fato de estar fora da cúpula do governo?

Alberto: posso te garantir que atendo mais pessoas da comunidade do que o próprio prefeito. Meu gabinete está sempre de portas abertas. Quem marca comigo é atendido e quem não marca, dou um jeito de atender. Atendo várias pessoas e faço encaminhamentos, que é uma atribuição do vice-prefeito. Atendo a comunidade por que as demandas são muitas. Diariamente estou na prefeitura. Posso até ter perdido o poder de participar da cúpula do governo, mas a comunidade atendo com muito prazer e sempre vou continuar atendendo até o final do meu mandato em 2020.

Folha: falando em 2020, o senhor pensa em ser candidato a prefeito?

Alberto: pretendo fazer parte da composição de uma chapa majoritária. O futuro a Deus pertence. Pretensão existe de uma chapa majoritária.

Folha: o senhor tem uma proximidade muito grande com outros partidos. Depois que toda esta situação se conflagrou, como está sua relação com o MDB e PTB? Inclusive com rumores de que o senhor iria ao PTB...

Alberto: tenho um relacionamento muito bom com o pessoal do MDB, com o pessoal do PTB, com o pessoal do PT também. Às vezes querem deixar até o vice-prefeito como vilão, mas tenho tem um exemplo recente, como à amizade com o Adriano Rodrigues, foi candidato à vice nas eleições de 2016. Fomos adversários políticos e nunca tivemos uma troca de palavras. Durante um debate, nos elogiamos. Posso dizer, com minha consciência tranquila, que a minha amizade, não com os partidos políticos, mas com a comunidade em geral. Tenho entrada em todos os lugares.

Agradeço a Deus, a minha gestão foi na minha vida particular, e essa gestão na vida particular reflete na vida pública. Até faço alguma comparação, tenho certeza que muita gente, se tivesse que escolher, para fazer gestão dos recursos da vida particular, me escolheria, tenho certeza que não ia quebrar ninguém, aliás, o patrimônio dessas pessoas aumentaria. Fui o conselheiro tutelar mais votado, fui bem votado quando candidato a vereador, fui presidente da Câmara e não precisei devolver recursos pela gestão de excelência. Minha vida particular e pública é limpa. Fazem fake news (notícias falsas) para me atacar. O eleitor vota e elege a pessoa, não interessa o partido se a pessoa não for boa.

Folha: recentemente, o prefeito Mário Augusto se ausentou em viagem e o senhor não assumiu a Prefeitura. A justificativa é que o senhor demitiria alguns secretários. É verdade?

Alberto: na verdade, foram três viagens à Brasília, em três semanas consecutivas. Na primeira semana ele (Mário Augusto) me disse: "olha, Alberto, não vou te passar porque tu ia demitir uns", agora, de eu dizer que eu não queria assumir, é mentira, "eu não falei para o senhor não me passar, eu avisei para ser leal e honesto, se me passar, tenho alguém para demitir". Eu assumi 17 vezes e nunca mexi com a caneta, mas, agora, o prefeito foi falar que isso é uma briga pessoal, não é pessoal, isso foi desrespeito comigo. Essas pessoas me desrespeitaram. Falei ao prefeito: me diga uma coisa, se o secretário mais amigo seu lhe desrespeitar, o senhor aceita? Eu tenho que aceitar tudo? Eu o avisei, mas jamais declinei de aceitar. Avisei que haveria algumas exonerações. Nas duas últimas vezes que foi para Brasília ele nem me avisou.

Folha: suas considerações finais

Alberto: o prefeito chegou a dizer que estava perdendo tempo, mas só estou aqui dando entrevista para responder a ele. Agradeço o convite para dar o contraponto e esclarecer a verdade. Quero deixar bem claro, que o prefeito falou pra mim e também em entrevista a um portal de notícias aqui de Dom Pedrito, dizendo que o vice-prefeito seria aceito sozinho, mas o seu grupo não, inclusive falou que me convidou para ir para o PP. Não aceitei, ainda falei a ele que seus amigos - alguns até me fizeram coisas que não gostei -, o senhor fica com todos os seus amigos, e os meus não. Os meus amigos, considero melhores que os dele. Esse foi um dos motivos. Dizer que o Alberto escolheu outro caminho, não é bem assim. Vamos nos respeitar. Queriam que eu fosse para o PP, para concorrer chapa pura. Nunca me vendi, nem quando vendia picolé, vou me vender agora, que estou numa condição melhor de vida. Nunca.

Segundo, o Perico falou em reunião do PDT, anterior a convenção, que o PP teria convidado ele para ser pré-candidato a vice do Mário na próxima eleição, então, daí querem atirar tudo nas costas do Alberto?

Terceiro, também nas eleições do PDT, teve pessoas ligadas a administração, que ele vem negando, mas ele sabe que sim, inclusive tem testemunhas, há mensagens. Ele sabe que essas pessoas usaram o nome dele prometendo empregos, já no dia seguinte, se votassem nele (Perico). Usaram o nome dele e ele negava. Eu pedi para ele que não houvesse interferência no governo. Ele disse que não houve, mas houve sim. Tudo eu tenho que aceitar? Tenho que deixar bem claro, pois as pessoas pensam que estou deixando o governo por uma imposição pessoal, mas sempre que há uma separação, os dois lados precisam ser ouvidos. Convidaram o Perico para ser vice, interviram na nossa eleição - teve até bolo na Câmara para comemorar -, que não venham se fazer de santos e dizer que o Alberto escolheu outro caminho. É como ser fiel e tua esposa te trair, tu vai ficar com ela? Ser fiel? Eu procurei o prefeito e propus uma amizade, ainda que os caminhos se separassem, mas ele se fechou e não me chama para nada, então fiz minha parte. Há poucos dias ele foi ao meu gabinete e me disse que em Dom Pedrito só havia dois candidatos com potencial, eu (Mário) e tu (Alberto), inclusive melhor que outros nomes, para nós continuarmos juntos, mas então eu disse que era muito difícil por tudo, pois ele comanda os CCs do PP, mas eu não comando os do PDT. Procurei sempre ser sincero com o prefeito, não ser um puxa-saco, como alguns que só batem palmas para o prefeito, como aquele vídeo da 'sexta-feira da maldade', motivo de chacota na região, mas os puxa-sacos apoiaram. Quero ver também quantos amigos ele tem agora, e quantos vai ter depois de deixar o cargo? É assim, esses puxa-sacos, todos vão correr para outros lados. Posso dizer, de fonte segura, que fui muito mais amigo dele, do que ele meu. As pessoas que me conhecem, sabem da verdade. Para eu seguir sendo vice-prefeito, só dizendo amém, mas tem CCs e secretários que mandam mais do que eu. Também não posso deixar de falar que sempre prezei pelo erário público, uma das ações, quando assumi como prefeito, foi cortar as horas extras de um CC que as recebia. Cortei e mandei devolver o recurso ao erário público. Estava tão certo, que o prefeito manteve a decisão.

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