Pedritense que trocou viagem da lua de mel por geladeira completa 107 anos


Por: Márcia Sousa/Folha do Sul
Adaptado: Jornal Folha da Cidade

Numa casa de dois pisos, com 82 anos de existência, localizada na rua Marechal Deodoro, entre as avenidas Marechal Floriano e Marcílio Dias, mora uma das mais longevas bageenses. Ao chegar na residência, o visitante percebe já na entrada marcas e recordações que perpassam gerações, a começar pelas fotografias em preto e branco que remetem aos anos 20 e 30. Ali mora, Alvarina Brum Infantini, que completou 107 anos no dia 30 de maio. Natural de Dom Pedrito, ela foi para Bagé aos 3 anos de idade. Ou seja, ela é considerada uma bageense por morar na Rainha da Fronteira há mais de um século, mas nasceu na Capital da Paz.

Alvarina, junto com o esposo, que morreu aos 70 anos, o médico Maurício Infantini, “cravou” uma marca em Bagé que vai ficar guardada nos anais históricos para sempre. O casal foi o primeiro a ter uma geladeira elétrica na Rainha da Fronteira. Foi em meio a quadros com fotografias e recordações que a filha Magda Infantini recebeu a reportagem do Folha do Sul para falar sobre a mãe.

Magda se dedica de forma integral aos cuidados da mãe. Com a gata chamada Cida aninhada no colo na fria manhã desta quarta-feira, ela contou fatos sobre a vida da mãe que atualmente inspira muitos cuidados e não sai mais do quarto.

Alvarina chegou aos 100 anos, com todo vigor. Pelo porte físico, nada lembrava que ela tinha chegado a essa idade. Com corpo esguio, na festa do aniversário centenário, ela dançou com os convidados e posou para fotos, sempre muito sorridente.

Magda conta que a mãe gosta muito de música, sempre foi uma mulher ativa, dinâmica e que apreciava muito o cinema. “Era uma dona de casa exemplar”, lembra. Alvarina gostava de “devorar” romances, sua leitura predileta.

Formada em piano pelo antigo conservatório de música – hoje Instituto Municipal de Belas Artes (Imba), foi numa das apresentações ao teclado que conheceu o homem que viria a tornar-se seu esposo. Esse fato ela contou em uma entrevista para a TV Câmara – conduzida por Gladimir Aguzzi, antes de completar 100 anos. Alvarina disse que tocava a música São Francisco pelas Ondas e o médico, que fez história em Bagé, se encantou com a pianista. Ambos se casaram e tiveram três filhos.

Magda comenta que a mãe tocava só de ouvido e era eclética na música, mas tinha predileção por tango e La Cumparsita.

Um marco na história
O casal Alvarina e Maurício fez história em Bagé ao comprar a primeira geladeira elétrica, da Rainha da Fronteira. Foi em dezembro de 1937. Fazia um calor escaldante na cidade e ambos tinham planejado a viagem da lua de mel para Porto Alegre. Só que o calor era tanto, que o casal resolveu trocar o lazer por uma geladeira elétrica. Antes existiam poucas na cidade, só que eram a gás. Quem intermediou essa compra foi o fundador da Rádio Difusora, o empresário Vicente Gallo Sobrinho, que indicou que havia geladeira elétrica nos Estado Unidos, inclusive, tinha conhecimento da marca.

Viagem da lua de mel desfeita e geladeira comprada. O eletrodoméstico veio de navio da terra do “Tio Sam” para o Rio de janeiro, numa travessia que durou uns três meses. Depois, foi transportada de trem para Bagé. A novidade virou sensação na cidade.

Quando completou 107 anos, Magda fez um chá com bolo para as amigas. Embora a memória cansada pelos longos anos não seja a mesma, Alvarina ainda tem momentos de lucidez, conta a filha. Hoje, ela permanece no quarto ao cuidados de Magda e de profissionais. “Sempre tivemos uma ligação muito grande, vivo em função dela”, disse Magda. Além do piano, Alvarina Infantini, que quando jovem gostava de festa e de dançar, também tocava gaita.

Quando a reportagem está para sair da casa, ela mostra fotos centenárias dos pais, entre elas, um quadro com uma minúscula foto em preto e branco da mãe vestida de noiva. Em uma dessas preciosidades, está uma foto do avô de Magda Infantini, que remonta os anos 20 e 30.

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