Silvio Bermann


Santa Casa precisa de R$ 1,5 milhão para viabilizar UTI

 No dia 31 de março de 2017 era inaugurada a área física da nova Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) da Santa Casa de Caridade de Dom Pedrito, construída integralmente com recursos da iniciativa privada, mais exatamente oriundos do Engenho Coradini e das pessoas físicas de seus diretores Waldomir, Vandi, João e Moacir Coradini.

 Dias antes da inauguração, escrevi, textualmente: “A área construída é de 330 metros quadrados, edificadas na Ala Sul do quarteirão do Hospital São Luiz, disponibilizando 10 leitos, sendo 7 deles distribuídos em um amplo salão e outros 3 leitos ocupando quartos individuais de isolamento, todos equipados com serviços de ponta na área tecnológica da saúde intensivista, como oxigênio, vácuo, ar comprimido, comunicação interna, exaustão de ar, etc. A ala também conta com 2 banheiros, quarto para médico, sala de descanso para pessoal da enfermagem, salas de espera, entre outros espaços”.

 Daqui a três meses, terá transcorrido dois anos e nossa UTI, de fato e de direito, continua sendo uma UI (Unidade Intermediária). E isto pela simples razão de que o setor precisa estar devidamente credenciado junto aos governos estadual e federal, habilitando-se assim a receber verbas para sua manutenção. Mas, para que isso aconteça, a Santa Casa, primeiramente, necessita contratar uma equipe de intensivistas, colocar a UTI a funcionar como tal 24 horas por dia e, somente então, solicitar formalmente seu credenciamento.

 A razão para isso não ter ainda acontecido, explica o provedor da instituição, Luiz Carlos Moraes Costa, é que essa equipe de recursos humanos para atuar na UTI custará à Santa Casa R$ 250 mil por mês. E a projeção, entre trâmites burocráticos de Porto Alegre a Brasília, é que o processo todo demore cerca de 6 meses. Portanto, 6 longos meses em que se precisará desembolsar aqueles R$ 250 mil/mês, totalizando R$ 1,5 milhão em meio ano de funcionamento, sem que a Santa Casa receba um único real em contrapartida como UTI, porque, para todos os efeitos, enquanto não sai o credenciamento da unidade nosso hospital receberá pelos serviços ali prestados o valor de uma AIH (Autorização de Internação Hospitalar) comum, isto é, R$ 690,00 (seiscentos e noventa reais), como se cada um dos pacientes ali internados estivesse em um quarto comum do Hospital São Luiz.

 A esperança, agora, por parte do provedor, é que aquele valor de R$ 1,5 milhão seja obtido com o apoio de deputados federais, via emendas parlamentares que viessem a subsidiar os serviços da equipe de intensivistas durante 6 meses. Ou, quem sabe, alguma outra intervenção da iniciativa privada poderia vir a preencher o vácuo deixado pela ineficiência do poder público neste País, a exemplo do que a família Coradini já o fez quando mandou construir aquela ala do hospital. Como podemos notar a partir desse exemplo, ligado à saúde pública – provavelmente o setor mais importante numa sociedade, porque seu objetivo-fim é, justamente, cuidar da vida das pessoas –, para reencaminhar o Brasil aos trilhos será preciso bem mais do que esperança em governos honestos e competentes. Precisará de coragem para mexer a fundo nesse lodaçal de burocracias e insensibilidade que emperram até as iniciativas mais dignas do setor privado ao tentar contribuir com o que é público, e ver seu ato de cidadania obstaculizado por um sistema que não faz e não deixa ninguém fazer. Expectativa de que as coisas mudem – e para melhor -, é o que nos resta ter nesta virada de ano. E é exatamente isto que intencionamos nesta última edição de 2018, para o bem de nossos doentes que continuam sendo transladados para outros municípios quando poderíamos os estar atendendo aqui mesmo, em Dom Pedrito, numa UTI de fazer inveja até a centros maiores. Carpe diem!

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