Talvez a maior parte das pessoas, pelo menos os mais moços, não saiba de quem estamos falando, nem tampouco, onde fica esta rua. Bom, oficialmente a denominação da rua já não existe mais, mas durante décadas da história pedritense, era assim que era chamada a atual Rua Borges de Medeiros. Muitos se perguntam e não aceitam até hoje o fato de que uma rua com o nome de um personagem tão significativo para Dom Pedrito, tenha sido relegada a segundo plano, ainda mais porque o ilustre Antonio Augusto Borges de Medeiros nada tem a ver com a cidade, visto que além de ser um advogado e político brasileiro, tendo sido presidente do estado do Rio Grande do Sul por 25 anos, durante a República Velha, não teve uma atuação como a que caracteriza padre Bastos como um dos trabalhadores pela fundação da Vila de Dom Pedrito. Mais uma vez, então, iremos tecer alguns comentários ligeiros, nada de biografia, mas um esboço representativo de mais uma figura, que embora não seja pedritense nato, foi, sim, um dos ícones da trajetória da cidade e que por razões políticas e de interesses pessoais, acabou tendo a rua que levava o seu nome trocado pelo o de um forasteiro, digno de respeito, é claro, mas não ao ponto de merecer a distinção de ter uma das principais ruas de Dom Pedrito com o seu nome, o que se configurou como uma verdadeira injustiça. A representatividade que tinha essa rua, porque fazia cruzamento com a Rua Bernardino Ângelo, formando, assim, uma cruz, era emblemático para a cidade, porque foram dois personagens decisivos para a criação da primeira capela, o que, obviamente não foi levado em conta pelos legisladores da época. Por tratar-se de uma autoridade católica, seu nome está cercado de uma aura de respeito e confiança. O que muitos também não sabem é que nosso ilustre personagem é rodeado de histórias pouco sacerdotais, diríamos, ainda mais para uma época recuada, como aquela. Nada, entretanto, a ponto de desabonar a figura de padre Bastos, que era, como o são nos dias de hoje os sacerdotes, um homem com suas fraquezas e seus desafios que foram enfrentados como devem ser. Confira a seguir, então, um pouco do que a reportagem do Folha, sempre em parceria com o professor e museólogo Adilson N. de Oliveira, puderam auferir. Algumas das informações são extratos do livro "Vultos de Minha Terra", de Lucio da Silva, pseudônico de João de Deus D´Mutti, de 1925, outras são fruto de apontamentos e relatos orais de Adilson Oliveira, e do dr. Ciro Quadros.
José Tavares Bastos Rios
Lucio da Silva assim se referiu a padre Bastos: O padre Bastos era um sacerdote distintíssimo por suas virtudes e nobreza de coração. De alma talhada grandemente, para o bem, devotava acrisolado amor à humanidade e, nunca se disse que o padre Bastos trancasse ouvidos aos rogos dos deserdados da sorte.
A sua palavra ungida de doçura e caridade, tinha sempre uma consolação para o aflito, um conselho para o transviado e uma prece para os infelizes.
A nossa população teve início no ano de 1853, sendo os seus principais fundadores Bernardino Ângelo da Fonseca, tomando mais tarde uma de nossas ruas o seu nome, e o padre José Tavares Bastos Rios, então capelão do Exército e logo após vigário colado da paróquia que, pode dizer-se, por ele criada, desde a primeira casa que se edificou. Tem (ou tinha) uma das nossas ruas, o seu nome.
Nada mais nos resta dizer sobre a personalidade do humanitário sacerdote. No coração de todos os pedritenses, a sua memória é viva e latente. O padre José Tavares Bastos Rios era natural de Cabo Frio, Rio de Janeiro. Outro autor, Arlindo Rubert, na obra "A história da igreja no Rio Grande do Sul, vol II - 1998" apresenta outra faceta do vigário pintado por Lucio da Silva e contraria um pouco suas concepções, até a localidade de seu nascimento. Senão, vejamos:
Na página 49 ele assim se refere: padre Bastos atendeu, durante a ausênsia de padre João Batista da Motta Veloso, da paróquia de Nossa Senhora da Conceição da Cachoeira, Cachoeira do Sul, a essa paróquia, em 1852 - pouco antes de vir para Dom Pedrito - conclusão de Adilson Nunes de Oliveira.
Na página 125 - Padre Bastos substituiu na paróquia de Nossa Senhora das Lavras o padre Joaquim José (ilegível) - francês, a partir de 15 de março de 1849. Era religioso franciscano, natural de Alagoas, que poderia ter bons modos, mas não bons exemplos. Ficou até 1852 quando foi mandado como primeiro pároco de Dom Pedrito. Obs. O fato do autor se referir a ele como de bons modos mas não de bons exemplos deve-se, acreditamos, ao fato de ele ter tido um relacionamento com uma mulher casada e com ele alguns filhos, todos devidamente registrados. Como? Explicaremos mais adiante.
Na página 234 - a capela criada em 1852 só teve cura a 2 de junho de 1853, que foi o padre José Tavares Bastos Rios, que foi o primeiro pároco, transferido de Cachoeira, até sua morte em 14 de outubro de 1887. Fala que era franciscano com o nome de frei José de São Boaventura. secularizou-se em 19 de novembro de 1851. De seu afastamento sacerdotal houve diversas queixas (arq. Nacional - Doc. Hist. Caixa 941, doc. 69). Obs. O fato de o padre Bastos ser um religioso secularizado, isto é, dispensado dos votos monásticos, explica a vida pouco ortodoxa a ele atribuída.
O bispo Dom Sebastião, a 29 de agosto de 1864, o diz de pouca ciência e pouca seriedade. "Tinha relações ilicitas com uma mulher casada - ela estava com o marido e esta se dava com o vigário. Na verdade, o padre Bastos, apesar de algumas boas qualidades 'abusava mal' o celibato e deixou descendência.
De acordo com documento da cúria diocesana de bagé, consta no livro 01 de assentamentos de óbitos da paróquia de Dom Pedrito, a folha 137, que o pabre José Tavares Bastos Rios faleceu em 14 de outubro de 1887, na matriz de Dom Pedrito, aos 64 anos de idade, vítima de menige-encefalite.
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