Silvio Bermann


Esperança

No coração da cidade grande, com aquele trânsito desenfreado, um acidente acontece com uma jovem que acaba jogada em frente ao ônibus que vinha logo atrás. Num reflexo, o motorista do coletivo freia, para o veículo, desce e socorre a menina, que a seguir é conduzida pelo pai ao Pronto Socorro. Ela está bem, mas poderia ter sua vida ceifada ali mesmo. Em entrevista à imprensa, o motorista do ônibus, homem simples mas, deu para notar, de muita fé, declara: “Não existe coincidência. Eu tinha que estar lá naquela hora e frear o ônibus. Foi a mão de Deus que me conduziu”.

 Esta é uma forma de se ver as coisas. Aquele motorista teve a leitura positiva dos fatos ocorridos. Fosse outro, teria dito: “Que azar. Tão logo eu conduzia meu ônibus logo atrás da menina acidentada. Consegui frear a tempo, mas poderia ter acontecido uma tragédia. Isso estragou meu dia. Por que coisas assim me acontecem?”.

Silvio Bermann.
 Algo semelhante se passa com os que nutrem a esperança, e com outros, que já a perderam. Reportei aqui, nesta Página, algum tempo atrás, que certo filósofo declarava: “Sem esperança, não há sofrimento”, numa visão demasiado realista, pessimista até, da forma como a vida flui para nós todos, às vezes nos machucando bastante quando sofremos nossas quedas, que não necessariamente acontecem só nas ruas das cidades. Também resultamos lesionados quando perdemos um amor, um ente querido, ou quando adoecemos, ficamos desempregados ou nos destemperamos nas tantas situações diárias a que somos submetidos. De fato, se não esperarmos nada da vida, não nos decepcionaremos com as perdas que, inexoravelmente, advirão. Mas, sem esperança, a vida perde a cor, o sentido, a magia que permite aos otimistas, às pessoas de fé, aos que acreditam na natureza da vida encontrar razões para sonhar onde os desesperançados só vislumbram desilusão e desespero.

 Meu amigo, Vagner Ávila, o Mano do Santinho, foi surpreendido, recentemente, como portador de uma grave enfermidade, precisando submeter-se a um transplante de pulmão que, felizmente, transcorreu com pleno sucesso há pouco mais de dois meses.

 Ele se restabelece, agora, com todo o acompanhamento médico que a ciência e a moderna tecnologia, na capital do Estado, podem lhe proporcionar. O período crítico pós-transplante já está quase superado. Ele haverá de vencer mais este desafio. Mas, faço questão de fazer esse registro. Seu diferencial, o que o tem sustentado onde outros não conseguiram igual sorte, é justamente a esperança. E, também, a fé que ele próprio e seus amigos possuem. De que tudo vai dar certo. De que estamos aqui para sermos felizes e saudáveis, e a dor e o sofrimento, embora sirvam para burilar nosso espírito, não são um desiderato que Deus nos imponha e com o qual tenhamos que conviver.

 Qual aquele motorista de ônibus que sabe, no fundo, que seu pé foi um instrumento para pisar no freio e não atropelar a menina, mas quem o guiou foi a mão de Deus, também sabemos todos nós, familiares e amigos do Mano, que cada um só pode dar o que possui, uns mais, outros menos, alguns orações, outros um abraço ou pelo menos algumas palavras no facebook, mas o que todos queremos é tê-lo de volta na plenitude do pulmão novo, mas principalmente na grandiosidade de seu coração, que é maior do que os corações de todos nós juntos. Melhora rápido, amigo! E não esqueça: Carpe diem!

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