Dom Pedrito e o Clube Gaúcho


 Conhecer a cultura gaúcha, através dos hábitos e costumes do gaúcho, onde a lida campeira retrata bem o modo de ser caracterizado pela sua indumentária, seu hábito de tomar chimarrão, a sua gastronomia muito rica, como o churrasco, o carreteiro, o gosto pelos cavalos, o gado, a terra, do seu chão riograndense. Visitar o Rio Grande do Sul, conhecer suas regiões, participar de um baile gaúcho, ir a um festival de músicas nativistas, assistir a um rodeio, o tiro de laço, ver de perto o modo de ser do povo gaúcho e a sua identidade e preservação das tradições, do folclore, parecem ser atividades comuns nos dias de hoje, até porque, com o surgimento dos Centros de Tradições Gaúchas e o Movimento Tradicionalista Gaúcho, ficou institucionalizado um modo de vida que orgulha a nossa gente

 Grandes artistas, músicos, pajadores, declamadores, cantores, poetas, gaiteiros, escritores manifestam seu apego pelo Rio Grande através da arte, que conservam acesa a chama crioula que fortalece e mantém a essência do nativismo, da identidade do gaúcho, através da cultura gaúcha. Com a arte e cultura, o Rio Grande do Sul, atravessou fronteiras levando a bandeira do Rio Grande aos demais estados do Brasil, assim como no estrangeiro, pois o encontro dos gaúchos junto aos CTGs, fez com que a preservação da identidade e dos hábitos e costumes, e o encontro de gaúchos, de conterrâneos possa ser realizada sempre em um CTG, em um 
Centro de Tradições Gaúchas.
 Ouvir uma música campeira, participar de um baile gaúcho, comer um churrasco, e unir as pessoas dentro de um conceito de tradição e cultura, dentro de um CTG, seja em solo gaúcho, assim como em um outro estado, ou em terras distintas, levando consigo a história, geografia, a arte, o tradicionalismo e a cultura do Rio Grande do Sul.
 Dom Pedrito foi uma pioneira no que diz respeito ao cultivo da tradição Gaúcha, mesmo antes de existirem os CTGs, isso mesmo, em 1902 foi fundado em nossa cidade o Clube Gaúcho, que era uma entidade que funcionava à maneira dos CTGs da atualidade. Mas sobre isso, falaremos na página seguinte. As informações e imagens constantes neste trabalho são oriundas do acervo do Museu Paulo Firpo. Utilizamos também a obra Manancial III, da Sesmaria Cultural, de 2016.

 Adilson Nunes de Oliveira, assim se refere na obra citada anteriormente: "Ao proclamar, desde logo, sua preocupação com a memória, Heródoto - como os demais gregos 'inventores da história e dos historiadores' - pretendeu que as marcas e os vestígios das atividades dos homens não fossem esquecidos, nem apagados. Muito mais adiante, Febvre preconiza que a história pode-se fazer sem documentos escritos, se eles não existem.

 Primeiro vi um cálice, depois o texto escrito e, finalmente, uma xícara - peças do Centro Gaúcho. Fundado em 14 de dezembro de 1902, o Centro Gaúcho de Dom Pedrito, assemelhava-se aos atuais Centros de Tradições, pois tinha o sentido de reviver os hábitos e costumes dos gaúchos, adaptando-os ao estado atual de civilização, estabelecer e realizar festas campestres, cavalhadas e tudo o que fosse compatível com o espírito gaúcho, e que o juízo natural indica e acata.

 Dentre seus objetivos estavam, ainda, o de desenvolver entre os gaúchos a veneração pelos nossos ilustres avós, (e aí se reportavam aos Farroupilhas) salientando seus feitos e consequências, por meio da escrita, palavras ou modos, bem como os grandes dias da pátria. Pretendiam também criar uma biblioteca, sala de armas, linha de tiro, hipódromo e museu, para elevar intelectual e fisicamente os gaúchos e, ainda, desenvolver e aperfeiçoar a raça cavalar. Muitos desses objetos expressam os dogmas da doutrina positivista implantada no Estado por seu maior líder, Júlio de Castilhos: o culto aos antepassados e seus valores; (os mortos cada vez mais governam os vivos), o aperfeiçoamento moral e intelectual, capaz de gerar os "mais capazes" para impor a ordem e o progresso. Esses princípios que também influenciaram a política e a arquitetura, expressas quer na Biblioteca Pública do Estado, quer na prefeitura de Dom Pedrito, pelas ordens clássicas e a estatuária.

 Para ser "gaúcho", como o club denominava seus sócios, classificados entre efetivos, correspondentes, honorários beneméritos, era preciso ser maior de 15 anos e ter moralidade comprovada. Em seu ambiente eram proibidas as discussões políticas, religiosas e pessoais.

Local onde ficava a sede da entidade
 A diretoria era composta de um presidente, vice-presidente, dois secretários, um tesoureiro, um orador e doze diretores do mês. A comissão que elaborou os estatutos estava composta pelos doutores Amâncio de Marsilacc Motta e Arthur Trilha de Lemos, alferes João Carlos Jatahy, Antônio Moreira Garcez e Manoel Aguirre. Sendo empossados posteriormente, como presidente, Manuel Cândido Xavier; vice-presidente, Damasceno José Martins; 1º secretário, Manuel Valghan Pires; 2º secretário, Adauto Francisco Firpo; tesoureiro, Edmundo Torres e orador, Salvador Duarte.

 Foi elaborado um projeto de estandarte, venerando os grandes feitos patrióticos e os fatos de nossa história com as cores da revolução de '35', em homenagem ao cometimento de Bento Gonçalves, evocado em 18 listras nas cores verde, amarelo e vermelho. No ângulo superior, ao lado da amura, um pequeno retângulo em fundo azul celeste, uma estrela branca, trazendo no fundo as iniciais CG, logo abaixo uma fita branca com a data de fundação da entidade: 14 de dezembro de 1902.

 As cores verde, amarelo e vermelho reportam à veneração pelos herois de 35, o azul como sendo a abóbada celeste, representa a vastidão dos recursos naturais de nossa terra, e o branco, a singeleza de nossas aspirações. A estrela representa o próprio Centro Gaúcho, como sendo a maior e mais brilhante associação entre os congêneres.

 Dentre as peças do Museu Paulo Firpo, tem-se o exemplar de um cálice de licor e uma xícara com a inscrição "Club Gaúcho", embora o estatuto denomine a instituição de Centro Gaúcho. A sede era em frente à Praça General Osório, pela Borges de Medeiros, quase esquina com a Barão do Rio Branco, onde tempos depois funcionou o Centro Cívico Riograndense. Esta página pode reafirmar o pensamento de Febvre, que a história precisa dar voz aos desconhecidos - o cálice e a xícara - e reporta a Marx, quando afirma que os homens fazem sua própria história, embora não saibam que a fazem".

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