Há 180 anos, no dia 1º de março de 1845, oficialmente chegava ao fim a Revolução Farroupilha. Foi nos campos do Ponche Verde que Imperialistas e Farrapos firmaram a paz, pondo fim aos 10 anos da guerra que assolou a então província de São Pedro do Rio Grande do Sul.
O acordo, conhecido como ‘Convenção de Ponche Verde’, ‘Paz de Ponche Verde’ ou ‘Tratado de Ponche Verde’, além de selar a paz entre caramurus e farroupilhas, marcou para sempre a memória de Dom Pedrito. À época, a região não passava de um pedaço de terra pertencente à Estância São Miguel, mas hoje, enquanto cidade, ostenta com orgulho o título de Capital da Paz Farroupilha.
A revolta
O estopim da Revolução Farroupilha se deu pela combinação de fatores econômicos, políticos e sociais. Tomados de insatisfação e revolta com a monarquia, principalmente pela elevada taxação do charque - principal produto da economia gaúcha -, líderes militares e civis, pertencentes à elite da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, viam a guerra como a única possibilidade de obter mais autonomia e garantir melhores condições econômicas para a produção e comercialização do charque.
Embora alguns líderes cogitassem a independência do estado, a maioria dos estancieiros, a exemplo do próprio Bento Gonçalves - que era um membro assíduo da corte -, era contrária ao movimento separatista que foi ganhando força com o passar dos anos. O foco inicial da revolta era assegurar benefícios comerciais e fiscais dentro do próprio Império.
No dia 20 de setembro de 1835, tropas farrapas tomaram a capital, Porto Alegre, destituindo do poder o então presidente da província, Fernandes Braga. Naquele dia, iniciou-se o conflito que se estenderia ao longo de uma década e que, em 1836, levaria à proclamação da República Rio-Grandense, marcada pelos ideais de ‘liberdade, igualdade e fraternidade’.
A Paz
Ao contrário do que se imagina, a Paz não se deu de bom grado. Após 10 anos de peleja, era natural o desgaste de ambos os lados, mas principalmente das tropas Farroupilhas que enfrentava escassez de recursos, perdas significativas – como o Massacre de Porongos, que exterminou o grupo de guerreiros Lanceiros Negros, e merece um capítulo a parte – e a falta de apoio externo para de fato conquistar a independência da República Rio-Grandense.
Assim, em 1844, tiveram início as tratativas para um acordo ‘honroso’. Após diversas negociações, a Paz foi instalada diante das seguintes condições:
Art. 1° - Fica nomeado Presidente da Província o indivíduo que for indicado pelos republicanos.
Art. 2° - Pleno e inteiro esquecimento de todos os atos praticados pelos republicanos durante a luta, sem ser, em nenhum caso, permitida a instauração de processos contra eles, nem mesmo para reivindicação de interesses privados.
Art. 3° - Dar-se-á pronta liberdade a todos os prisioneiros e serão estes, às custas do Governo Imperial, transportados ao seio de suas famílias, inclusive os que estejam como praça no Exército ou na Armada.
Art. 4° - Fica garantida a Dívida Pública, segundo o quadro que dela se apresente, em um prazo preventório.
Art. 5° - Serão revalidados os atos civis das autoridades republicanas, sempre que nestes se observem as leis vigentes.
Art. 6° - Serão revalidados os atos do Vigário Apostólico.
Art. 7° - Está garantida pelo Governo Imperial a liberdade dos escravos que tenham servido nas fileiras republicanas, ou nelas existam.
Art. 8° - Os oficiais republicanos não serão constrangidos a serviço militar algum; e quando, espontaneamente, queiram servir, serão admitidos em seus postos.
Art. 9° - Os soldados republicanos ficam dispensados do recrutamento.
Art. 10° - Só os Generais deixam de ser admitidos em seus postos, porém, em tudo mais, gozarão da imunidade concedida aos oficiais.
Art. 11° - O direito de propriedade é garantido em toda plenitude.
Art. 12° - Ficam perdoados os desertores do Exército Imperial.
David Canabarro, então comandante das tropas Farroupilhas, assinou o documento em 28 de fevereiro de 1845. No dia seguinte, em 1º de março, o Barão de Caxias, comandante das tropas Imperiais, oficializou o acordo. Apesar da pacificação e do acordo documentado, nem todas as cláusulas foram cumpridas pelo Império brasileiro.
Símbolos e memória
Em comemoração ao centenário da Paz Farroupilha, em 1945, um obelisco foi erguido nos campos do Ponche Verde. Projetado pelo engenheiro Longuinho Marques da Costa, e medindo mais de sete metros de altura, o marco apresenta diversos símbolos em sua base e prisma, como os brasões do Rio Grande do Sul e do Império. A área que abriga o Obelisco da Paz foi batizada, no ano passado, como Parque Farroupilha Nelso da Silva Oliva, em homenagem ao memorialista e escritor pedritense morto em 2019.
Outra representação que remete ao Tratado do Ponche Verde é o Monumento à Paz Farroupilha, que fica localizado na entrada da cidade. Inaugurado em 14 de setembro de 2009, a obra foi doada ao município pelo proprietário da Estância Guatambu, Valter José Pötter. Com 5 metros de altura, o monumento é de autoria do artista plástico Sérgio Coirolo.
Símbolo imaterial, mas com um significado profundo, o cognome de Capital da Paz foi dado ao município pela poeta e professora, Marília Alencastro Maia. O ‘apelido’ popularizou-se de diferentes maneiras: junto de seus alunos da terceira série, em 1966, e no início da década de 1970, através da publicação de um de seus poemas, Ode à Capital da Paz, em sua coluna no extinto Jornal Ponche Verde. O título foi oficializado em 27 de outubro de 1988, através de um decreto assinado pelo então prefeito Quintiliano Machado Vieira.
Como forma de reconstituir a memória, a Coordenadoria Municipal de Tradicionalismo promove anualmente a Semana da Paz Farroupilha. O evento celebra a história, a cultura e a união dos gaúchos, promovendo diversos encontros, palestras e apresentações que reforçam o legado da Paz Farroupilha e os valores do tradicionalismo. O encerramento da Semana da Paz 2025 aconteceu ontem (28), no Rancho Farroupilha Antônio Cândido de Souza Neto.
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