Policial pedritense fala sobre trabalho realizado pela Decrab no combate aos crimes rurais

Inspetor Patrício - segundo, da esq. para a direita - ao lado de seus colegas na Decrab

O inspetor Patrício Antunes atua desde 2016 na investigação de crimes no campo, na então Força-Tarefa de Combate aos Crimes Rurais, que posteriormente resultou na criação da Delegacia de Polícia Especializada na Repressão aos Crimes Rurais e Abigeato (Decrab). Os crimes rurais sempre foram de difícil resolução, no entanto, a então Força-Tarefa lograva resultados positivos, realizando operações, prendendo abigeatários e desarticulando quadrilhas, o que significou uma redução desta modalidade de delito.

Em abril, a Decrab completou dois anos. Patrício é pedritense e atuou muitos anos na Delegacia de Polícia local. Atualmente, está lotado na Decrab. Ele concedeu entrevista ao Folha, falando sobre o trabalho realizado no combate ao abigeato e aos demais crimes rurais.

– A Decrab/Bagé completou dois anos em abril. Antes era conhecida como Força-Tarefa. O que efetivamente mudou na transição de uma Força-Tarefa para uma Delegacia?

Na verdade, o nosso trabalho teve início em agosto de 2016. Na época, diante dos elevados índices de criminalidade no campo, a Polícia Civil resolveu criar uma força tarefa com o intuito de promover um enfrentamento especializado aos crimes rurais, especialmente o abigeato, delito que já estava chegando ao número de 10 mil ocorrências por ano.

No começo não tínhamos a pretensão de que a Força Tarefa viesse a se transformar em Delegacia de Polícia Especializada, até mesmo porque esse órgão se quer existia no Brasil. Também não tínhamos a verdadeira dimensão do que encontraríamos pela frente. A Força Tarefa, que tinha atuação em todo território gaúcho, era coordenada pelo delegado Adriano Linhares e tinha em seu quadro sete policiais civis.

Logo nos primeiros meses de trabalho vimos que estávamos em meio a verdadeiras organizações criminosas especializadas em crimes rurais, estas com atuação em todo o território estadual. Aos poucos fomos entendendo como elas funcionavam e já no começo de 2017, através da Operação Campo Limpo, desarticulamos uma das maiores organizações daquele período. Na sequência, várias outras exitosas operações foram realizadas.

Deste modo, face aos bons resultados que vínhamos obtendo, várias lideranças do meio rural, entre elas o então presidente do Sindicato Rural de Dom Pedrito, senhor Luis Augusto Gonçalves e o deputado estadual Sergio Turra, levantaram uma bandeira inédita no Brasil: a criação de uma delegacia especializada em investigações de crimes rurais. A ideia foi muito bem recebida pela Secretaria Estadual de Segurança Pública e também pela chefia da Polícia Civil.

Em abril de 2018, sob a coordenação dos delegados André de Matos Mendes e Cristiano Ritta a então Força Tarefa de Combate aos Crimes Rurais, transformou-se na primeira Delegacia Especializada na Repressão aos Crimes Rurais e Abigeato do Brasil, esta no município de Bagé (Decrab/Bagé). Poucas mudanças na forma de trabalhar ocorreram, contudo tivemos maior autonomia quanto à realização de investigações no âmbito estadual. Outras três delegacias especializadas foram criadas na sequência, as Decrabs de Santiago, Santa Cruz do Sul e de Camaquã.

Hoje as quatro Decrabs trabalham de forma bastante alinhada no Rio Grande do Sul e são coordenadas pelo delegado André de Matos Mendes.

– O que mais te impactou logo que integraste neste, até então, novo projeto do Governo do Estado?

Sem dúvidas que foi a possibilidade de ter sido parte desse processo de transformação. De algo que era meramente um projeto temporário de governo, a Força Tarefa, para órgãos de Estado, as Decrabs.

Fico feliz em saber que independente de onde eu e os colegas que hoje trabalham comigo estiverem, deste ou daquele governo, os trabalhadores do campo, que são responsáveis por quase 50% do PIB gaúcho, terão sempre a quem recorrer. 



– Qual o impacto da criação da Decrab para o Estado?

A história da Decrab se confunde com a Força Tarefa, por isso chamamos de trabalho especializado; tratamos os números com o antes e o depois do nosso trabalho. Entre os anos de 2016 e 2019 conseguimos reduzir as ocorrências de abigeato no Rio Grande do Sul em quase pela metade.

Costumamos dizer que o gráfico das ocorrências de abigeato no Rio grande Sul fala por nós. Uma caminhada difícil, mas recompensadora que, sem dúvidas nenhuma, diminuiu em cifras de milhões os prejuízos causados pelas organizações criminosas especializadas em abigeato.

– O trabalho da Decrab tem resultado positivamente com a redução no número de casos de abigeato, mas o crime ainda persiste principalmente nas carneadas. Que dificuldade os policiais encontram para combater esta modalidade específica de abigeato?

Não apenas carneada. Observamos ainda um elevado número de furtos de gado em pé também. Sabemos que o abigeato, infelizmente, nunca terá fim. Lutamos diuturnamente para diminuir os índices, focando o nosso trabalho especialmente para o enfrentamento das organizações criminosas, uma vez que elas atuam de forma organizada e sistemática. Bandos que na maioria das vezes estão em municípios diferentes dos quais ocorrem os crimes.

Existem também o que chamamos de “furtos formiguinha” que, em via de regra, são praticados por abigeatários locais em quantias pequenas de animais, mas que também trazem elevado prejuízo aos produtores. Nestes casos procuramos trabalhar em conjunto com as delegacias dos municípios.

A maior dificuldade que encontramos é justamente no custo que o nosso trabalho representa para o Estado, que sabidamente vive algumas dificuldades. Rodamos muito, boa parte do tempo em estradas de chão, e consequentemente danificamos nossas viaturas e consumimos muito combustível.

Outro problema que encontramos é que, não raras vezes, são registradas ocorrências policiais dando conta de furtos de grande quantidade de animais (100 animais, por exemplo). Daí quando vamos investigar (o que gera custos para o estado), descobrimos que, na verdade, não era bem assim; em alguns casos apenas “acertos” de lotação. Fatos costumeiros que atrapalham muito o nosso trabalho.

– Qual a ação/operação que mais te impactou no período em que tens atuado combatendo os crimes rurais?

Antes de entrar para a polícia trabalhei por vários anos em uma grande empresa agropecuária de Dom Pedrito, e pude acompanhar o quanto era difícil conviver com os constantes casos sistemáticos de abigeato (sempre carneadas de cinco/seis animais). Por mais de 20 anos o município de Dom Pedrito e região foi atacado por uma quadrilha de Pelotas e nós não sabíamos.

No final de 2017 e início de 2018, através em uma investigação policial que durou mais de um ano, respectivamente deflagramos as operações Castelo e Ponche Verde. Essas resultaram na prisão de 36 (trinta e seis) abigeatários, todos da cidade de Pelotas. Criminosos que, utilizando carros roubados e forte armamento, levavam animais abatidos a campo da nossa região (sempre gado de boa qualidade), para o comércio pelotense.

Após a realização dessas operações nunca mais ocorreram furtos na modalidade de carneada de seis animais em Dom Pedrito. Antes chagávamos a ter um ataque por semana, e assim foi por mais de 20 anos.

Essas duas operações tiveram especial importância para mim, uma vez que beneficiaram diretamente, em muito, Dom Pedrito e região.

– Que orientação tu deixas aos produtores, para prevenir crimes rurais, que não apenas o abigeato? E qual a importância do registro policial?

A orientação que eu deixo é que, na medida do possível, os produtores busquem por ferramentas de segurança. Hoje existem empresas de confiança realizando tais serviços. Mesmo que os criminosos consigam furtar, não raras vezes conseguimos provas (como por exemplo, imagens) que nos auxiliam nas investigações.

Hoje uma cabeça de gado possui elevado valor de mercado, consequentemente representando alto custo ao produtor, fatos que fortalecem a necessidade de investimentos em segurança. Por conta da alta do preço da carne e dos defensivos agrícolas, temos observado a migração de quadrilhas (algumas que antes realizam assaltos a banco) para os crimes rurais. Isso dado as facilidades que os criminosos às vezes encontram em nossas extensas áreas de campo.

O registro da ocorrência policial é fundamental para o nosso trabalho, costumamos dizer que sem a notícia, o Estado não sabe do crime. Foi justamente por conta das ocorrências de abigeato que hoje possuímos no Rio Grande do Sul quatro Delegacias Especializadas.

Convém informar que hoje os produtores possuem a possibilidade de noticiar as ocorrências através da Delegacia Online RS, sem sair de casa, através do site www.delegaciaonline.rs.gov.br.

– Qual mensagem tu deixa para a comunidade?

Gostaria de usar este espaço para agradecer os colaboradores que a DECRAB possui em Dom Pedrito. A Polícia Civil não vive sem informação, e se hoje conseguimos ter bons resultados no município, o nosso trabalho se deve ao fato de possuirmos bons informantes. Pessoas que mesmo no anonimato, sabem da importância que possuem.

Convém dizer que a Decrab possui uma parceria muito boa com a Delegacia de Polícia de Dom Pedrito, com a Vigilância Municipal, com a Brigada Militar e com a Inspetoria Veterinária, além de podermos contar sempre com o especial apoio do Sindicato Rural. O que é vital para quem trabalha no enfrentamento dos crimes rurais e seus reflexos na cidade.

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