Nos 153 anos de Dom Pedrito, a torcida é pela paz

 


Dom Pedrito celebrou, na última quinta-feira (30), seus 153 anos de emancipação política. Terra abençoada, de solo fértil e gente hospitaleira, ostentamos com orgulho a alcunha de “Capital da Paz”, título dado na década de 1960 pela professora e poeta Marília Alencastro Maia em alusão ao Tratado de Ponche Verde, assinado nestes pagos, e que pôs fim à Revolução Farroupilha.

A narrativa do surgimento da cidade mescla ficção e realidade: nos primórdios, éramos um pedaço de terra habitado por indígenas Pampeanos, pertencente à Estância São Miguel, do município de Bagé. Isso até a chegada de um imigrante basco-espanhol chamado Pedro Ansuateguy, que pelo porte de fidalgo, era conhecido por Don Pedrito.

Desertor do exército espanhol, Pedro deixou a região platina e se refugiou à margem esquerda do Santa Maria onde, com facilidade, podia se esconder das autoridades castelhanas. Ali, junto a outros 12 homens, também desertores, ergueu alguns ranchos, abriu picadas na mata e deu início a um povoado que logo ficou conhecido por “Passo de Don Pedrito”.

Contrabandista, Pedro trazia couro do Uruguai, e trocava o material por outras mercadorias, iniciando assim o comércio local – ainda que por pouco tempo, já que logo nosso “fundador” partiu rumo a novas aventuras.

Mas, a essa altura, o passo já tinha atraído a atenção de quem queria um pedaço de terra para recomeçar a vida, e um povoado se formou. O quanto há de invenção e de memória nisso tudo, nunca saberemos. O que se sabe é que, de fato, o desenvolvimento começou através de Bernardino Ângelo da Fonseca e da elevação da pequena vila a cidade no ano de 1872.

Revisitando a História – aquela com H maiúsculo, a que se aprende no colégio e nos livros – nos deparamos com uma Dom Pedrito plural e progressista: a do Movimento e do Clube Abolicionista, a pioneira no cultivo da soja no Rio Grande do Sul, a que foi palco da Revolução de 1923 e se reergueu, vivendo seu apogeu na década de 1930 com o chamado “ciclo do couro” e que vislumbrava um futuro de próspero desenvolvimento – o que se conquistou, em parte, com a vinda de uma universidade federal para cá.

Mas na história cotidiana – essa que construímos e testemunhamos no dia a dia – a realidade é outra: convivemos com o êxodo populacional, já que a maioria da nossa gente parte para outras cidades em busca de melhores condições de vida; grande parte das nossas ruas ainda são de terra e as vias calçadas encontram-se intrafegáveis; os índices de violência são alarmantes para uma cidade cuja população é de pouco mais de 36 mil habitantes.

Somente na última semana, três crimes chocaram a comunidade pedritense: uma criança de 3 anos, morta, muito provavelmente, pelo descaso dos pais; um jovem de 19 anos assassinado durante a madrugada no banheiro da principal praça da cidade e outro, de 24, em frente à Casa Rural.

Quinta-feira, feriado de aniversário da cidade. O Centro em efervescência – famílias, crianças, amigos aproveitando a noite. Até que os estampidos ecoam e os risos se calam. O sangue jorra do corpo tombado sob o canteiro. Um carro é atingido por uma bala perdida, expondo nossa fragilidade. Estamos todos em risco.

Vivemos uma contradição dolorosa: a “Capital da Paz” assiste, impotente, ao aumento da criminalidade enquanto nosso efetivo policial é insuficiente. Faltam agentes, faltam recursos, falta atenção do Estado. O sentimento de insegurança cresce e com ele a sensação de abandono.

Investir em segurança pública pode até não ser a solução definitiva para o problema da violência dada à profundidade de suas raízes, mas certamente representaria um respiro, um alívio para que voltemos a ocupar as ruas sem medo.

Nos 153 anos de Dom Pedrito, o desejo coletivo é um só: que a paz volte a fazer parte da nossa identidade.

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