Coluna Espírita

Em torno da humildade

 O tema humildade é um dos que sempre aparecem nas rodas em que o Espiritismo surge. Fruto de uma caminhada evolutiva em que o ser humano reconhece a sua pequenez diante do muito que desconhece, a humildade é a virtude que todos deveriam almejar, uma vez que ela é a porta que dá acesso a todas as outras. A este respeito, lembramos de alguns conceitos trazidos por Mário Sergio Cortella, reconhecido palestrante brasileiro, filósofo com inúmeros livros publicados. Cortella diz que a pessoa humilde é aquela que sabe que não sabe tudo; que sabe que não é a única que sabe; que sabe que o outro sabe que ela não sabe tudo; que sabe que as duas juntas poderão saber muito; que sabe que por mais que se saiba, jamais irá saber tudo aquilo que pode ser sabido. Ele estabelece, também, uma diferença entre a humildade e a subserviência. 

 A primeira pode ser contextualizada nas condições precedentes, já a segunda é a condição em que determinadas pessoas se colocam, num ato de rebaixamento, de diminuição dos seus potenciais inatos, às vezes por contingências da vida, às vezes por um fenômeno psicológico de vitimização frente aos obstáculos inerentes a vida de qualquer um, o que deve representar para o indivíduo que assim se comporta, justamente um campo a ser trabalhado, um motivo para agir e mudar. É interessante quando se encontra conceitos tão valiosos vindos de pessoas que não são necessariamente espíritas, o que realmente, não é uma premissa para ser uma pessoa de bem, pois o bem e a moralidade não possuem bandeiras. Outra valiosa forma de encarar o tema, e que Cortella também exemplifica com muita propriedade é o fato de que o homem humilde é grande porque sabe que é pequeno, e por isso cresce, enquanto que pessoas pequenas acham que já são grandes, e a única maneira delas crescerem é se elas abaixarem o outro, fato bastante observado na atualidade em qualquer esfera. 

 Mas como ser humilde? Como construir esse sentimento, essa virtude? Talvez não haja uma receita pronta, ou uma fórmula exata para se chegar a tal, o que existe, sim, são alguns caminhos que levam a esse objetivo, alguns mais curtos, mais fáceis, menos dolorosos, por assim dizer; já outros, infelizmente, representam tarefas penosas para o ser que não aceita os nobres conceitos da vida e é por isso constrangido por alguns fatores, a dobrar os joelhos frente aos impositivos, aos ensinamentos que a vida traz, que na realidade, são sempre os mesmos, mas que por sua própria incúria, os recebe revestidos com outras roupagens. O ideal, em qualquer caso, é saber reconhecer que em essência somos todos iguais, estagiando em diferentes departamentos da existência. Muitos aspectos podem parecer nos diferenciar exteriormente, mas somos iguais em nossa filiação divina e também únicos em nossa caminhada rumo ao conhecimento de nós mesmos, configurando-se este uma das razões para nos considerarmos um a extensão do outro. Estar em um mundo como o nosso, com tantas diferenças é precisamente o objetivo de toda a encarnação, ou seja, a busca pelo equilíbrio, tema tão falado nas doutrinas orientais. 

 O equilíbrio mais não é, do que a busca pelo autoconhecimento, pela diminuição das diferenças nos relacionamentos, pela construção do edifício ético-moral do espírito, tarefas que passam necessariamente pelo roteiro de luz trazido pelo Cristo há dois milênios, afinal, como se conhecer, como ser uma pessoa melhor, sem perdoar, sem amar ao próximo, sem fazer ao outro o que se quer para si mesmo? Se existe uma receita para se chegar à humildade, com certeza, estes ingredientes são indispensáveis. Mas e aqueles que não possuem uma religião, aqueles que não cristãos, como farão? A fórmula é a mesma, aliás, Jesus nunca disse que para “ser salvo”, alguém deveria ser desta ou daquela religião, mas apenas que o seguisse, quer dizer, que praticasse os ensinamentos por ele exemplificados, e mais, o messias falou que seus discípulos seriam reconhecidos por muito se amarem, e isso independe de religião e está ao alcance de qualquer pessoa de boa vontade.  
Pensemos nisso!

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