Já se passaram 6 anos desde a instalação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) em Dom Pedrito, durante a administração do saudoso prefeito Francisco Alves (Chiquinho), quando o secretário da Saúde era Hiltom Ender Silva Lopes e a coordenação do Serviço estava a cargo do enfermeiro João Leguiçano. Daquela época, a equipe atual mantém apenas os quatro técnicos de Enfermagem. A coordenação do programa está hoje a cargo de um entusiasta da área de saúde pública, o enfermeiro Hildalcley Silva, paraibano de origem, pedritense de coração desde que aqui se radicou no ano 1991 e que já atuou na Secretaria Municipal de Saúde, no Hospital São Luiz e no Pronto Socorro. Já os condutores (motoristas que também têm qualificação como socorristas) são de uma nova safra, estes todos concursados, depois de uma primeira turma que foi contratada quando o serviço começar a funcionar.
As condições de trabalho também só evoluíram. As acomodações que antes eram ocupadas na planta do próprio Hospital São Luiz, em anexo ao Pronto Socorro, foram substituídas por uma infraestrutura exclusiva para a equipe, que agora ocupa uma casa do outro lado da rua, na Trilha de Lemos, em frente ao Pronto Socorro. O prédio, de propriedade particular, é alugado pela prefeitura através de uma imobiliária, contando com 7 peças, assim distribuídas: cozinha, banheiro, dois quartos (um para o condutor e outro para o técnico plantonistas), almoxarifado, sala de estar e escritório.
O Folha da Cidade atendeu convite do enfermeiro Hildalcley e, na segunda-feira passada (4) foi conhecer as instalações e conversar informalmente com o pessoal de plantão naquele dia, a dupla formada pelo técnico em enfermagem Cristiano Maciel e pelo condutor Erivelton Machado, além do coordenador Hildalcley.
Quando chegamos, na sala de estar, um aparelho de TV LCD de 42 polegadas passava um filme, criando um ambiente descontraído de casa de família numa tarde como outra qualquer em uma residência da cidade. Erivelton trocava de botinas, sentado em um dos sofás que já tiveram dias melhores mas ainda continuam aconchegantes. Na parede, também de plantão, um aparelho Split de ar condicionado testemunhava que, se o tempo piorar, calor ou frio dentro da base ninguém vai passar enquanto aguarda-se o próximo chamado pelo 192. Entretanto, os plantonistas acabavam de chegar de uma ocorrência na localidade rural de 4 Bocas, a aproximadamente 40 km da cidade. Com a chuva que caía naquela tarde e levando em conta a dificuldade de trânsito nas estradas vicinais, logo fomos perguntando sobre o tipo de veículo utilizado como ambulância. Tratava-se de uma camionete Ford Ranger, tracionada, que não tem medo de tempo ruim nem de estrada problemática. A outra viatura, esta sim, sem tração, uma Fiat Ducato, não pode ser empregada em terreno de difícil acesso, mas é a mais utilizada na cidade por ser mais confortável. Esta, naquele dia, encontrava-se em conserto, na vizinha cidade de Bagé. “Foi consertada de um dia para o outro”, comemorava a equipe, dando conta que não tinham do que se queixar em termos de condições de trabalho. “A única coisa que incomoda é a burocracia quando precisamos adquirir algum tipo de material, o que exige todo aquele ritual de tomada de preços, etc. Mas, isso faz parte do serviço público”, explica o enfermeiro chefe.
TEMPO OURO
O Samu trabalha com um protocolo denominado de ‘Tempo Ouro’, uma medida que projeta o tempo ideal de atendimento de uma ocorrência não superior a 5 minutos. “É um tempo estimado para, por exemplo, salvarmos uma vítima de parada cardíaca. Mas, em Dom Pedrito, considerando-se as distâncias, que são menores, dentro da cidade levamos em média 2 minutos para chegar ao local da chamada”, depõe Hildalcley.
O sistema funciona assim: quem comunica uma ocorrência liga para o 192, que chama em Bagé. O atendente identifica a situação, faz a triagem pertinente e, constatando que o fato caracteriza a intervenção do Samu, contata a base em Dom Pedrito através de um aparelho smartphone. O coordenador nos mostra a tela do aparelho e explica: “Assim que atendemos a ligação, aparece aqui toda a descrição do caso em andamento, endereço em que precisamos comparecer, etc”.
FALTA CONSCIENTIZAÇÃO NO TRÂNSITO
Um dos grandes problemas que as equipes do Samu enfrentam no trabalho diário é a falta de cooperação dos motoristas no trânsito. O normal seria conduzir o veículo para a direita da via, liberando a esquerda para a passagem da ambulância, quando esta vem sinalizando com a sirene e o giroflex. “O pessoal não respeita, estão vendo que a ambulância está indo e não abrem caminho”, diz o condutor Erivelton. “Tem gente que chega a dirigir com fone no ouvido, e sem olhar pelo retrovisor”, acrescenta o técnico em Enfermagem, Cristiano. “E quando chegamos no Pronto Socorro, trazendo um paciente, vez por outra tem um carro particular estacionado em frente à porta, o que é proibido”, retorna Erivelton.
SUICÍDIOS E HOMICÍDIOS
Os casos envolvendo morte violenta, como os homicídios e os suicídios são os que acabam marcando mais a lembrança da equipe do Samu. Eles citam vários atendimentos bastante dramáticos e que somente não reproduzimos aqui para não causar mais dor às famílias envolvidas. O número de suicídios, no contexto, preocupa o pessoal, mencionando que em média vem acontecendo pelo menos um caso por mês em Dom Pedrito e já teve um mês em que três suicídios foram registrados. É muita coisa para um município do porte de 40 mil habitantes. “Em 2015, atendemos 17 óbitos por suicídio e, nestes primeiros três meses de 2016 já registramos 3 suicídios”, informa Hildalcley.
A EQUIPE DO SAMU DE DOM PEDRITO
Coordenador: Hildalcley Silva
Técnicos em Enfermagem: Andreia Giacomini, Paula Torres, Cristiano Maciel e Gilcele Costa.
Condutores: Mauro Sednei, Cristiano Bitencourt, Simone Chelotti, Leonardo Caminha e Erivelton Machado.




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