Frente a frente com Luiz Filipe Lemos de Almeida

Frente a frente com
 Luiz Filipe Lemos de Almeida

 O bate papo desta semana é com ninguém menos do que o juiz Luiz Filipe Lemos Almeida, titular da 1ª Vara da Comarca de Dom Pedrito. Muito embora neste espaço tenhamos conversas mais informais com nossos entrevistados, a que tivemos com o magistrado se reveste de maior responsabilidade, visto tratar-se da maior autoridade do poder Judiciário no município. Fomos recebidos em seu gabinete e confessamos, se não estivéssemos no Fórum, pensaríamos estar conversando com uma pessoa comum, dada a simplicidade e humildade com que dr. Luis Filipe recepcionou nossa reportagem.

 Nascido em Bagé no dia 23 de janeiro de 1979, é filho de Adoniram Lemos Almeida e Maria Paula de Oliveira Brito. Seu pai era agrônomo da Emater, homem de família ligada à área rural. Sua mãe, professora, é de família de imigrantes alemães. Possui quatro irmãos, o mais velho é promotor de justiça em Pinheiro Machado, o segundo é engenheiro da Gerdau na unidade de Cotia - SP; outro trabalha no Ministério Público como secretário de diligências em Bom Jesus - RS; e o mais novo cursa veterinária em Cruz Alta - RS. Até os 9 anos de idade, o então menino Luis Filipe estudou na Escola Silveira Martins, em Bagé. Depois de uma grande seca, como ainda é comum em Bagé, mudou-se para Porto Alegre com a mãe e lá radicou-se, onde continuou seus estudos sempre em escolas públicas. É casado desde o ano de 2005 com Geovana Lemos Almeida e possui três filhos - Luiz Filipe, Eduardo e Tiago. Além da praticar exercícios - corrida - o magistrado diz que nas horas vagas vem desenvolvendo o hábito da leitura, método que vem utilizando para relaxar; gosta de ir a jogos do Grêmio, no que foi a praticamente todos os jogos em que tricolor gaúcho conquistou os últimos títulos, gosta de viajar com a família e, como todo mundo, assar uma carne e beber sua cerveja.

O Exército e suas lições

 Em 1998, ingressou nas fileiras do Exército pelo CPOR - Centro de Preparação de Oficiais da Reserva, na turma de Intendência e realizou estágio no 3º B Log, em Bagé. Sobre isso, dr. Luiz Filipe revelou sua grande admiração no que ele se expressou dizendo que o Exército é alvo de sua predileção desde criança. "Lá eu aprendi, talvez a maior lição da minha vida - a questão do individualismo e do coletivo. No Exército não adianta você fazer certo, se o seu colega fizer errado, pois todos acabam por 'pagar' igual; a questão de existir um espírito de corpo, de não se contentar com que você fez, mas sim, atingir um resultado; é muitas vezes o momento em que tem o primeiro contato com arma de fogo; você aprende a limpar o banheiro que os outros usaram, a fazer sua própria comida, a fazer 'cri-cri' (retirada do mato que cresce por entre o calçamento); num mesmo lugar são colocados filhos de médicos e de garis - todos no mesmo dormitório, dormindo juntos, marchando juntos, quebrando barreiras sociais e raciais, essas são lições que eu levo para o resto da minha vida", pontuou nosso entrevistado. Ele lamenta que o Exército enfrente essas contingências de recursos, visto que, em sua opinião, um maior número de reservistas seria uma forma de educação de nosso povo, a ponto de ser um divisor de águas na vida de muitas pessoas - é o primeiro momento que se conhece autoridade de fato e a própria questão da punição quando se faz algo errado. Segundo ele, alguns conceitos, principalmente de autoridade, estão muito enfraquecidos em nossa sociedade e o Exército tem a função de reavivar isto. "Na vida funciona assim - pessoas que realizam atos valorosos são recompensadas e aquelas que tem atos destituídos de valor, são punidas". Ele observa que o Exército, além desta função social, possui uma importância  nestes momentos de crise, seja no funcionamento dos serviços públicos, secas, inundações, desastres em geral, quando há uma necessidade premente, o Exército é quem é chamado.

A carreira jurídica

 Dr. Luiz Filipe concluiu o Ensino Médio em 1996, prestou o vestibular na Ufrgs, mas não foi aprovado. Ingressou, então na PUC. Por ter na família um histórico na área do Direito - seu avô era procurador de Justiça, bem como outros familiares que atuavam  no Ministério Público, naturalmente teve despertada em si a vocação para a o área jurídica. Cursou Direito, portanto, entre 2007 e 2012. Formado, advogou por dois anos, foi chamado em um concurso que realizou durante o tempo de faculdade. Depois disso, outros concursos vieram - foi secretário de diligências, promotor de Justiça no estado do Acre e juiz desde 2010. Dr. Luiz Filipe disse que sempre se preparou para ser promotor de Justiça, tanto que os concursos que prestou, via de regra sempre foram para este cargo, mas a magistratura foi a grande oportunidade de permanecer no Rio Grande do Sul. A primeira cidade como juiz, então, foi São Francisco de Assis, de 2010 até 2014. Em junho daquele ano transferiu-se para Bom Jesus e em janeiro de 2016, chegou a Dom Pedrito. O magistrado considera muito bom ter sido promotor antes de ser juiz para aprender, inclusive, o que não fazer.

A vinda para Dom Pedrito

 Além de ter sido um presente, foi uma promoção por merecimento e a possibilidade de voltar para a fronteira. Apesar de passar ao lado da cidade quando em viagem  a Santana do Livramento e Rivera, por exemplo, nunca havia entrado na Capital da Paz, embora tivesse a vontade de conhecer os famosos vinhos da terra. Em sua opinião, Dom Pedrito tem vantagens e desvantagens, mas o lado positivo é que ela reúne o bom de uma cidade grande com o bom de uma cidade pequena: temos bons supermercados, boas farmácias, bons restaurantes, quer dizer, uma boa prestação de serviços para o seu tamanho. O primeiro ponto negativo é a distancia de Porto Alegre - como bom gremista, fica mais difícil assistir o jogo do tricolor; a distância da família e a deficiência em estrutura pública.

A integração com a comunidade



 Dr. Luiz Filipe, querendo ou não, é um magistrado diferente dos que por aqui passaram. Frequentemente é possível vê-lo correndo pelas ruas, andando de bicicleta com os filhos, fazendo compras no supermercado ou em eventos populares, onde certamente a maioria dos magistrados não iria. Sobre isso, ele diz tem uma premissa - se o juiz não fosse um agente social, a Constituição não o obrigaria a morar na comarca onde está lotado. "É preciso conviver com a sociedade, estar exposto às mesmas situações que todos os cidadãos. No meu ponto de vista, poder julgar a partir da experiência de como funciona a sociedade é muito importante", frisou dr. Luiz Filipe. A visão de que o juiz, em muitos casos, é colocado na posição de um ser quase que divino, em sua opinião não condiz com a necessidade de se tornar também um ator deste cenário, para que possa julgar de acordo com a realidade vivida por essa comunidade. É óbvio que ele precisa tomar alguns cuidados, porque querendo ou não, ele passa a ser uma pessoa visada pela função que desempenha,  que pode, vez por outra, despertar ódios, rancores e até interesses, mas nem por isso deixa de viver a sua vida, como faz qualquer outra pessoa. Ele revelou que no início de sua atividade na magistratura, possuía um certo temor em se relacionar, em se expor, mas com o tempo a maturidade fez com que percebesse justamente a necessidade desse contato, o que certamente é um diferencial. "Minha vida é exatamente igual a de qualquer pessoa - tenho um cachorro, gosto de carros e sou gremista" finalizou o juiz, que após uma foto para registrar nosso encontro, seguiu seu trabalho, enquanto a nós cabia a responsabilidade de entregar ao público um perfil deste que é, sem dúvida, gente como a gente.

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