Silvio Bermann

Sobre grãos que eclodem e
 velas que se consomem

 A homilia do padre Alex Kloppenburg, desenvolvida na missa da Matriz, domingo passado (18), nos trouxe um tema interessante para pensar, de que não devemos apenas viver por viver, mas antes termos um propósito, um objetivo.

 E, referindo-se a essa senda da missão de cada um na Terra, padre Alex utilizou a figuração da vela, que precisa consumir-se para atingir seu desiderato que, afinal, é proporcionar a luz. No mesmo contexto, o sacerdote apresentou a metáfora do grão de trigo, que é atribuída a Jesus de Nazaré: “Em verdade vos digo: se o grão de trigo lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto”, redundando num trigal.

 Lembrei do que aprendemos nas aulas de Filosofia, lá no 1º ano do Ensino Médio: a semente, em ato, é apenas uma semente; mas em potência, é uma árvore.

 Na parábola do grão de trigo, Cristo já deixava implícita a mensagem de que sua morte era necessária – qual o grão – para que houvesse a salvação da humanidade (o nascimento do trigal).

Silvio Bermann
 As questões transcendentais deixamos para nosso competente e carismático sacerdote. Entretanto, as de natureza mais pragmática e das relações entre os homens nos dizem respeito de perto: por mais que tenhamos boas ferramentas – conhecimento, dinheiro, poder político, bens materiais, etc -, se não as transformarmos em ações, em algo bom e útil, não converteremos toda aquela potência em ato, não haverá função social para nossa existência, e  teremos uma vida sem propósito; chegaremos àquele “viver por viver”, sobre o qual nos advertiu o padre.

 Não gosto – digo mais, abomino – o comunismo. Entretanto, lições podemos encontrar em todas as doutrinas e filosofias, e há no pensamento de Karl Marx, o precursor do materialismo científico,  a máxima que destacava: “Até agora os filósofos se preocuparam em interpretar o mundo de várias formas. O que importa é transformá-lo”. Sabemos no que redundou suas tentativas neste particular. Mas, convenhamos, a transformação – para melhor – é imperativa, o que podemos denominar de Evolução. E para isto precisamos de ações, não apenas de teorias.

Padre Alex
 Por derradeiro, que utilizemos nossa vida como sugerido por padre Alex: qual as velas, que nos gastemos com um propósito de luz, para melhorarmos de alguma forma não só o mundo, que por grande que é às vezes nos assusta e nos parece missão por demais improvável que consigamos modificá-lo; mas que consigamos melhorar o entorno, ainda que timidamente e para as pessoas que nos cercam, para nossos irmãos mais próximos de caminhada. E isso se chama vida engajada em comunidade, como o fazem os clubes de serviço e as entidades assistenciais.

 Ah, como todo dia se nos proporcionam possibilidades de intervenções pontuais de nossa parte, para efetivamente fazermos a diferença, gerarmos nossa pequena porção de luz. E quantas vezes somos omissos e irresponsáveis por não tentá-lo! Sejamos, pois, grãos que precisam eclodir para que advenham os trigais que alimentarão os que têm fome. Carpe diem!

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