Silvio Bermann

O que mais me impactou
 durante o carnaval...

 ...não teve nada a ver com o carnaval. Na verdade, foram duas postagens feitas no facebook, que faço questão de compartilhar com vocês, até para dar mão à palmatória – eu, que não sou fã das redes sociais -, admitindo que também tem coisa boa por lá.

 Uma das postagens foi feita por um jovem pedritense, chamado Guilherme Almeida, que, pelo entendido, está servindo na 3ª Companhia de Engenharia de Combate Mecanizada. Fiquei impressionado com o nível de maturidade desse guri, que entendeu muito cedo um ensinamento ao qual vai se dar valor, geralmente, numa fase da vida bem lá na frente. Ele escreveu: “No Exército aprendi o que é fome, aprendi o que é frio, aprendi o que é dor. Descobri quanto vale exatos 5 minutos de sono e um pedaço a mais de carne, entendi que nada cai do céu a não ser chuva, que banho quente é luxo, que a coletividade não é fácil!! Aprendi que tudo tem um preço e que normalmente as coisas não são baratas. Aprendi o que é saudade e que ela dói. Descobri que grandes homens também choram e que mochilas são pesadas. Aprendi que para uma boa noite de sono não preciso de coberta nem de travesseiro. Aprendi que eu sempre tive tudo demais”.

Silvio Bermann
 Já passei por tudo isso que o Gilberto descreveu, lá no início dos anos 1980, servindo no 7º RCMec de Sant’Ana do Livramento. Sei, sou repetitivo, pareço o Tio Patinhas contando para os sobrinhos como foi que ganhou sua Moedinha da Sorte – a nº 1 (pesquisem, jovens, pesquisem para saber do que estou falando!!!). Mas é que, de todas as coisas que fiz na vida – e já foram muitas – uma das que mais me orgulho foi de ter servido como voluntário ao Exército Brasileiro. Uma instituição com todos os atributos para se aprender sobre os limites de resistência individual e coletiva que precisam ser ultrapassados e sobre os maiores valores da natureza humana que devem ser preservados. E Gilberto aprendeu isso tudo cedo, muito cedo. De parabéns, portanto, ele próprio, pela evolução atingida, e também sua família – o esteio – e a própria 3ª Companhia, que está lhe proporcionando tal aprendizado, como para tantos.
E também houve um goiano, o Josimar Santos, que fez uma postagem – com direito a imagens de época -, de produtos, serviços e costumes que já são, na maior parte, objetos de museu ou, no mínimo, estão bem guardados nos escaninhos de nossas mais saudosas e queridas memórias (refiro-me a nós, os veteranos):

 Quem não lembra das reuniões dançantes, que fazíamos nas casas uns dos outros, onde rolavam alguns “amassos” ao som de vinis que giravam enlouquecidos em toca-discos e vitrolas? E das fitas em VHS que locávamos na promoção de sexta-feira para entregar na segunda? Ou da Enciclopédia Barsa – o ‘Google’ da época, na qual pesquisávamos sobre qualquer assunto nas salas amplas, limpas e silenciosas das bibliotecas públicas?

 Quem não entrou em fila de telefone ‘orelhão’, o único meio de comunicação das pessoas sem recursos financeiros, numa época em que algo como o telefone celular era coisa de ficção científica? E quem não tem saudade do Trabalho de Português, que quando nos saíamos notavelmente o professor escrevia numa lateral: Nota 10, Parabéns! Coisas de um tempo em que os professores nem sonhavam que um dia ‘casa’ se escreveria com ‘k’ e uma nova linguagem digital praticamente substituiria a língua-mãe lusitana.

 Como, também, saudosos são os tempos dos jogos de bolita, com direito a triângulo e raia, jogado “às devas” e “às brincas” (valendo ou não ao vencedor ganhar as bolitas do oponente); do ajuste vertical na TV em preto e branco ou, no máximo, ‘colorida’ com papel celofane verde ou rosa; épocas de gravarmos em fitas K-7 as músicas favoritas que ouvíamos no rádio; de ‘bloquear’ ligações tirando o fone do telefone fixo tijolão do gancho; de colecionar tampinhas e figurinhas e de calçar kichute (um tênis popular lá dos anos 60) com direito a amarrar seus longos cadarços em torno dos tornozelos, porque assim era a moda. E tempos, ainda, de olhar fotografias em tubinho ou de passar o temido e ardido Merthiolate nos pés, canelas e joelhos ralados pelos tombos nos carrinhos de rolemã...

Rua "Agraciada" - Rivera, Uruguai
 Todas essas histórias me deixaram saudosista no carnaval, com suas postagens no facebook. E isso que eu nem havia ainda me recuperado de uma montagem que o Pacase me enviou, intitulado ‘Rivera em el recuerdo”, com imagens antigas de minhas queridas Rivera-Livramento em seus áureos tempos de Cines Grand Rex, Imperial e Astral, carros antigos, velhos ônibus de linhas urbanas com sua cor amarelo/mostarda; os prédios históricos – da Alfândega, do Banco de la Caja Obrera, o da Padaria Alcázar – bem na linha divisória (33 Orientales com Sarandi) que fabricava o melhor croissant que já comi na vida; e o Edifício Palácio do Comércio, da Acil (Associação Comercial e Industrial de Livramento), nos tempos em que no térreo ficava a sapataria Caggiani; a velha Siñeriz, a lancheria Sabô; a Praça Rio Branco; o Largo Hugolino Andrade e o Obelisco no centro do Parque Internacional; as crianças das escolas primárias uruguaias transitando com seus tapapós impecavelmente brancos e grandes laços azul-marinho; os ônibus da Onda que faziam a linha Rivera-Montevideu;  todas essas fotos ambientadas ao som de ‘Caminitos de tierras coloradas’ (de Agustín Bisio e Alán Gómez): “Caminitos de tierras coloradas/ no los hay dondequiera / Caminitos de tierras coloradas / son propios de Rivera”. Definitivamente – constato -, foi um carnaval nostálgico esse meu; e o presente tem que se esforçar muito para fazer frente a tudo de bom que já passou. É por isso que os veteranos vivem mais de memórias. 

Carpe diem!

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