Luciana Michel - Sacode Brasil


 É carnaval, mas não em Paris! Sempre fui “foliona”, porém há anos não consigo coincidir minhas idas ao Brasil com essa festa que tanto amo. Um evento que parece tão evidente para mim, fica agora bem longe da realidade das pessoas que me relaciono aqui. Claro que todos sabem o que é, uns até sonham em conhecer, pensam em um dia, porque não, assistirem um desfile no Rio de Janeiro. A mídia local fala muito rapidamente sobre o assunto, mostra algumas breves imagens, e era isso. Nas escolas, apesar das aulas serem normais, até o quarto ano, as crianças são convidadas a irem fantasiadas no Mardi Gras, ou seja, terça-feira gorda. Assistem seus cursos normalmente em trajes sempre muito criativos e fofos, no final da aula comem crepe e brincam com suas roupas “diferentes”. Isso foi o mais perto do que seria a festa do Rei Momo, para minhas filhas.
  
 Neste quesito, se for avaliar por meu gosto pela folia, tive mais sorte que elas. Nunca estive na Sapucaí, nunca usei abadá, nem dancei atrás de algum trio elétrico, mas tenho as melhores lembranças de Carnaval, e não as trocaria por nenhum baile badalado no Copacabana Palace!Se sempre foi entre Rio e Bahia que tudo acontece, para mim, nada era melhor que estar no Country Club de Dom Pedrito! O tempo passou, as coisas mudaram, mas eu nunca esqueço, ainda bem! Preparava e bordava, eu mesma, minhas próprias fantasias. Oscilava entre o Bloco do Bili e o Dedicados à Folia, dependendo de quem era o namorado da vez e a qual das duas turmas o “felizardo” pertencia. As “concentrações” na casa do Santinho, onde podíamos controlar toda cidade do alto da janela, já davam o embalo certo para as noites de pura diversão. A “marchinha” (ai como me sinto velha falando assim!), Cidade Maravilhosa, abria os bailes e, aqui vou confessar para vocês que, durante muitos anos, tive certeza que essa música tinha sido feita para Dom Pedrito. Para mim cabia como uma luva: “Cidade maravilhosa, cheia de encantos mil...” Tempos muito bom da minha vida bem vivida! Tempos em que não entendia porque o presidente Medeiros, a quem todos respeitavam com muita seriedade, impedia os casais apaixonados, de se beijarem no salão! Mesmo quando a orquestra tocava a célebre “Vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é carnaval”! O bom, é que, depois de terminar, não era o fim, pois a festa e a junção, continuavam no sopão da Tia Maria e nas calçadas da Estação! Tempos em que considerava isso tudo como o mais exato sinônimo de felicidade.

 Hoje meu carnaval, não é mais o mesmo, mas continua sempre dentro de mim. Minha fantasia poderia ser chamada de esquimó, e meus confetes são os flocos de neve que decoram Paris. A vida seguiu seu curso natural e me afastou de algumas coisas que, durante anos, achei que não poderia ser feliz sem. Aqui, nesse inverno frio, um pouco nostálgica, para combinar com o cenário em que me encontro, misturo minhas lembranças com toda essa “ofegante epidemia, chamada Carnaval”, na qual vocês aí acabam de passar. E se me questiono como os franceses podem viver sem a emoção dessa grande festa, também me pergunto, como os brasileiros, que são capazes de apresentar um espetáculo tão deslumbrante ao mundo, que une todas as classes sociais, que atrai turistas de todo o planeta, ainda não se deram conta total da força que têm. Um povo com o poder único de sacudir as cadeiras como ninguém, também poderia sacudir o país, e unidos, mudarem o que está errado. Que vontade de dizer para essa “francesada” sem jogo de cintura: sacode França, é carnaval! Vontade maior ainda de dizer: sacode Brasil, não somos só carnaval!

 Obs.: Obrigada ao querido Mano do Santinho, que também faz parte das minhas melhores lembranças, pela foto enviada!

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