Crimes no trânsito - ações e consequencias



 Diante dos altos índices de acidentes de trânsito registrados em Dom Pedrito, notadamente os que ocorreram nos últimos dois meses, onde um deles foi a óbito - João Valter Campelo, de 73 anos, e mais recentemente Luís Mário Escobar, de 55 anos de idade, que se encontra hospitalizado desde 8 de outubro, vítima de um atropelamento, o Folha da Cidade, ciente de seu papel como formador de opinião na comunidade, traz à tona este assunto que, aliás, vem sendo trabalhado intensamente por alguns setores da sociedade. Para tanto, buscamos a opinião de algumas autoridades que têm, por conta de suas atribuições, ligação com o trânsito.

 Delegado André de Matos Mendes

 Dr. André observa, particularmente nestes dois casos mais recentes, muita similaridade, e que ambos, parecem fazer parte de uma cultura local que causa preocupação, visto que todos os finais de semana acontecem festas e depois destas festas as pessoas saem com seus carros, depois de terem bebido e se algo não for feito, vamos ter um caso de violência no trânsito a cada semana. O delegado observa, ainda, que ações preventivas como operações "Balada Segura" e outras do tipo, onde as polícias civil e militar agem conjuntamente, passam obrigatoriamente pela questão do efetivo. Segundo dados por ele fornecidos, a delegacia de Dom Pedrito necessitaria hoje de no mínimo 25 profissionais para atender a população como deveria, e que se, hipoteticamente, segunda-feira a delegacia passasse a contar com esse número de policiais, dois anos seriam necessários para se colocar em dia o volume de trabalho acumulado em seus cartórios, o que encontraria outro impedimento, qual seja, o espaço físico da delegacia que não comporta todo esse efetivo. Quer dizer, os governos, ao longo de décadas não planejaram essas questões, que deveriam ter começado a ser pensadas no mínimo 20 anos atrás. Sobre essas situações pontuais que ocorreram recentemente, o delegado vê com preocupação, porque as pessoas estão consumindo álcool e dirigindo em seguida, isto com relação aos casos que vêm a público, mas existem muitas outras ocorrências que acabam ficando no anonimato. Em sua opinião, diante da impossibilidade de resolver a questão do efetivo em curto prazo, é criar, de maneira conjunta com todos os setores da sociedade, alternativas que venham a diminuir os delitos de forma geral, e no trânsito especialmente, visto que ações pontuais como a "Balada Segura", por exemplo, esbarram na falta de efetivo das polícias, então e discussão precisa ser estabelecida para que se encontre soluções, mesmo que demandem maior doação de toda a sociedade. Ele lembrou, ainda, que todos podem se envolver em acidentes de trânsito, e a prevenção pode ser a chave para um maior enfrentamento, como campanhas nas escolas, começando pela base, realmente, promovendo uma conscientização. Com relação aos envolvidos nos dois acidentes citados acima, ambos estão em liberdade, o que acabou gerando muito descontentamento na comunidade, afinal, uma pessoa morreu e outra está hospitalizada. O delegado é de opinião que o trânsito precisa ser repensado em Dom Pedrito. Quanto à realidade da cidade, há previsão que até o fim do ano, dois policiais novos passem a integrar a delegacia, o que representa um alento aos profissionais que aqui trabalham e para toda a comunidade.

 Kátia Moraes - Coordenadora de Cursos do CFC Fênix

 A opinião de Kátia no contexto ora explorado é de suma importância, visto que representa o olhar de uma escola que forma os condutores. 
Kátia revelou que o Detran está formulando um novo processo de formação de condutores e os CFCs estão se adequando a esse novo modelo desde novembro do ano passado. Ela observa, contudo, que quando a pessoa chega ao CFC para fazer sua habilitação, o que ocorre com no mínimo 18 anos de idade, ela já traz sua personalidade, muitas vezes viciada, e em 20 horas aula é muito difícil mudar comportamentos já enraizados. O aluno aprende a conduzir veículos, mas não muda a sua personalidade, que a acompanha como bagagem moral. Uma das mudanças que devem sofrer alterações é o exame psicotécnico, visto que ele avalia apenas a capacidade de atenção e concentração, e no trânsito, mesmo que o condutor esteja concentrado e atento, ele ainda pode ter atitudes incorretas e que ponham em risco a vida do semelhante. Kátia referiu o fator fiscalização, ou a falta dela, como um fator preocupante visto que as autoridades têm se mostrado deficientes nesta questão, pela falta de recursos humanos e pelo descuido dos governantes. A falta de educação para o trânsito, a falta de diálogo dentro das famílias, nas escolas com as crianças, são fatores que contribuem para a que vivamos este estado de coisas. Ela lembra que hoje o assunto "acidente de trânsito" chega à casa das pessoas quando o próprio acidente acontece. As questões das sequelas sofridas por pessoas que se envolvem nos acidentes são constantemente trabalhadas nos cursos. Quanto às ações que vêm sendo desenvolvidas na cidade, a coordenadora observa de forma positiva, como ocorreu no seminário ocorrido recentemente, onde muitos jovens estavam presentes e o fator prevenção foi desenvolvido. Um olhar interessante trazido por Kátia é a relação existente ou a semelhança que há entre os crimes comuns e assim denominados, como, por exemplo, alguém que mata uma pessoa com uma faca ou um revólver, com um motorista que ingere bebida alcoólica e sai de carro e mata alguém atropelado. As leis, segundo ela são muito brandas e tratam de maneira distinta ambos os exemplos citados. Nos dois casos de atropelamento ocorridos na cidade recentemente, os motoristas estão soltos, porque na interpretação da Justiça eles não oferecem perigo à sociedade, mas Kátia pondera: “Quem garante que eles não irão beber novamente, pegar um carro e atropelar outra pessoa?; Quem garante a minha segurança, quando eu estiver caminhando com a minha filha na calçada?”. Mais adiante considera: “Nenhum de nós tem vacina que nos dê imunidade no trânsito”. Kátia vê como uma possibilidade de enfrentamento nesta situação, a união de várias entidades em torno de um objetivo comum, promovendo uma educação para o trânsito, entre outras ações que promovam informações.

 Alex Moreira - Coordenador do Movimento Maio Amarelo

 Alex, como coordenador do Movimento Maio Amarelo em Dom Pedrito, diz que está realmente muito preocupado com as últimas ocorrências de trânsito na cidade, notadamente essas de que estamos tratando aqui. Alex contou que mesmo os participantes do movimento na cidade têm dificuldade em entender que elas próprias podem ser as vítimas de acidentes de trânsito. Ele vê como uma necessidade a mudança de comportamento em geral, ações que acabam se refletindo no trânsito, mas sentir e vivenciar um comportamento por saber o que é certo e não com medo da repressão. Neste contexto, o exemplo, principalmente dos pais com relação aos seus filhos é de vital importância. Ele revelou alguns números: em 10 anos foram registrados 43 mortos em decorrência de acidentes de trânsito, o que, segundo ele, é um número assustador, dado o tamanho de nossa cidade. Vidas que foram ceifadas, membros de famílias arrancados do ninho doméstico, nivelando todos em uma só dor, que não escolhe raça ou nível social. Dom Pedrito possui atualmente quase 14.217 pessoas habilitadas a dirigir e uma frota de 22.586 veículos oficialmente em circulação, números que não combinam. Ele lembrou que a obrigatoriedade de fiscalizar o trânsito na cidade é do próprio município, e não basta fazer o convênio com o Estado e delegar o problema para a Brigada Militar, que visivelmente não consegue atender todas as ocorrências, por motivos mais do que óbvios, mas pondera, que como membro da sociedade não pode aceitar tal situação. Os governos não podem se omitir de sua responsabilidade, pois vidas estão sendo perdidas em razão da falta de ação das autoridades. Ele declara que o movimento do qual é representante está à disposição das autoridades, para discutir e encontrar soluções conjuntas que em realidade afetam a vida de todas as pessoas, independente de que lado se esteja. E pergunta “será preciso que mais pessoas morram para que algo seja feito? Que trânsito queremos para as futuras gerações?” Alex vê com preocupação o trânsito em Dom Pedrito nos próximos anos, porque os governantes, nos últimos 30 anos não se preocuparam com a infraestrutura do município. Acrescenta que as famílias deveriam conversar mais sobre o trânsito, ouvir mais seus filhos que muitas vezes se tornam multiplicadores da educação para o trânsito. Cada um fazendo o seu papel, teremos, não só um trânsito melhor, mas uma sociedade mais humanizada.

 Flavio Augusto da Cunha, Guto - Núcleo de Trânsito e Segurança Pública

 Guto contou que o Núcleo de Trânsito vem trabalhando na recuperação da sinalização vertical, pintura de faixas de segurança, no intuito de dar uma maior segurança aos condutores, medidas essas, em curto prazo. Em médio e em longo prazos, Guto disse que a atual administração pretende implantar o serviço de agentes de trânsito, visto que o modelo de fiscalização do trânsito atual, com o convênio com a Brigada Militar, já não consegue atender a demanda que o município exige, medida esta que deverá ser posta em ação até o final do Governo Mario Augusto e Alberto. O coordenador revelou, ainda, que existe um estudo do órgão junto ao Consepro para a instalação de um estacionamento rotativo no centro da cidade, que seria administrado pelo próprio conselho. Mencionou, também, o esforço em trazer militares da Brigada Militar de Dom Pedrito e que estejam atuando em outras cidades, para reforçar o efetivo da instituição aqui em nosso município e favorecer as ações de fiscalização. Guto, a exemplo de outros setores, considerou as ações de conscientização como fatores que devem ser incentivados, como forma de formar consciências mais comprometidas. Ações como construção de redutores de velocidade, que agora possuem outro formato, esbarram na falta de recursos que a atual administração enfrenta este ano.

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