Centenário é comemorado nesta quarta-feira, dia 20.
“Os 100 anos de um guerreiro”, é assim que a médica veterinária Isabel Gonçalves, filha do médico Luiz Mário de Moraes Gonçalves, refere-se ao centenário do pai, comemorado nesta quarta-feira, dia 20. Referência como profissional não apenas em Dom Pedrito, mas no estado, Gonçalves conquistou o título de “imortal” pela Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina.
Aposentado há 10 anos por questões de saúde, seu legado é visto como um exemplo pelos filhos e netos que testemunharam a paixão e a entrega do patriarca no exercício de sua vocação ao longo de quase sete décadas.
Origens
Pedritense de nascimento, é filho de Edith de Moraes e do imigrante português, e também médico, Francisco Antônio Gonçalves.
O Dr. Gonçalves, como era conhecido pela comunidade, chegou a Dom Pedrito por acaso, em 1914, acompanhando um amigo que queria prestigiar a inauguração da nova sede da Escola Nossa Senhora do Horto. Ali conheceu Edith, então interna do educandário, com quem se casou. Da união nasceram quatro filhos, sendo Luiz Mário o único filho homem do casal.
O amor pela medicina
Seguindo os passos do pai, o jovem ingressou, em 1942, no curso de medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre. O talento demonstrado ao longo da faculdade rendeu-lhe um convite para lecionar na instituição assim que concluiu os estudos, em 1948. A proposta foi negada, já que sua mãe enfrentava alguns problemas de saúde, e ele retornou a Dom Pedrito, onde deu início à carreira que duraria 66 anos – 56 deles integrando o corpo clínico do Hospital São Luiz.
Especializado em cardiologia pelo Instituto Dante Pazanesse, em São Paulo, exerceu, por toda a vida, o papel de clínico geral, tendo atuado também como cirurgião geral e obstetra. “Ele sempre foi daqueles médicos dedicados, nunca teve hora pra atender. E eu me criei com isso, vendo meu pai sair em qualquer horário prestar atendimentos”, recorda Isabel.
Esse empenho no exercício da medicina foi testemunhado também pelo neto, Antônio Gonçalves, hoje com 18 anos. “Minha relação com meu avô é muito forte. Eu cresci indo ao consultório com ele. Na época ele tinha uns 80 e poucos anos, e muitos pacientes. A gente saia, ele me contava muitas histórias e eu adorava dormir na casa dele. Lembro que uma vez, por volta das 3h da manhã, tocou o telefone: um paciente estava passando mal. E ele prontamente, aos 84 anos, saiu e foi atender. E eu fui junto, segurando a maleta dele”, relembra o jovem.
Ciência e espiritualidade
Ao contrário da maioria de seus colegas de profissão, Luiz Mário sempre reconheceu que “mistérios” rondam a humanidade; adepto à meditação, sempre acreditou no poder da mente e na força dos bons pensamentos e das demonstrações de afeto como auxílio a qualquer tratamento médico convencional.
Ainda no campo científico, sempre mostrou-se um profissional disciplinado e em constante busca por atualizações, fosse através de cursos, de participações em congressos, ou nas horas diárias dedicadas ao estudo entre um mate e outro.
Política e casamento
Além da medicina, Luiz Mário aventurou-se pela política. Foi eleito vereador da Capital da Paz, mas abandonou a carreira com o fim do mandato – que durou de 1951 a 1954 – para se dedicar exclusivamente ao trabalho como médico.
Foi nessa mesma época, no ano de 1952, que casou-se com Ruth Gonçalves de Gonçalves, com quem teve cinco filhos (três mulheres e dois homens). Gonçalves também é avô de nove netos e chega aos 100 com três bisnetos.
O título de imortal
Em 1990, Gonçalves ajudou a fundar a Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina, sediada em Porto Alegre, e conquistou o título de “imortal” ao ocupar a cadeira de número 20 da instituição; ao completar 80 anos, passou a ser considerado Membro Emérito da entidade.
Legado e inspiração
Para a médica radiologista Marília de Gonçalves Belardinelli, mais do que avô, Luiz Mário foi uma inspiração na escolha da carreira pela forma como conduzia seus atendimentos. “Eu lembro que eu estava na faculdade e vim acompanhar ele no consultório. E eu vi a forma humana e única como ele tratava os pacientes. Aquilo me sensibilizou de uma forma que eu não vi outra possibilidade além de ser médica”, diz.
Há uma década longe do consultório e com um legado que sobrevive à passagem do tempo, Luiz Mário atualmente vive cercado pelos cuidados da família, refletindo nos profundos olhos azuis a memória de um século.
0 Comentários