A casa do passo
É sem dúvida uma das residências mais antigas da cidade, e também uma das mais importantes. Fica, como o próprio nome sugere, ali do outro lado do rio, e da praia do Chiquilim é possível enxergá-la. Como sempre, serviram de base para este trabalho as preciosas informações obtidas com o professor e diretor do Museu Paulo Firpo, Adilson Nunes de Oliveira, bem como as fotos do acervo do museu. No livro "A Cidade de Dom Pedrito", de José Antônio Dias Lopes, encontra-se precioso relato sobre a história desta importante casa, que se mantém em pé, até as dias de hoje, como testemunha viva da história do povo pedritense. (...) A possibilidade de transpor o rio com menores riscos, transforma o Passo de Dom Pedrito em caminho obrigatório e exige que seus habitantes aumentem os estoques de mercadorias e ofertem serviços essenciais. Entendidos em carpintaria, ferros, e trabalhos em couro começam a aparecer. As próprias carretas e cavalos, embora tendo que entrar na água, beneficiam-se com o auxílio dos exploradores, vaqueanos dali. O aumento dos fregueses faz os antigos "boliches" prosperarem com rapidez. Pedro José Vaz e Joaquim Lourenço de Oliveira constroem sólidas casas de material.
E finalmente nos anos cinquenta (1850) o uruguaio Ramón Antonio Torres manda edificar uma grande casa comercial (a Casa do Passo), onde passa a vender arroz do Piemonte, licores e vinhos portugueses, espanhois, franceses e italianos, enlatados europeus, queijos de Portugal e da Holanda, ferragens, chitas, linhos, morins, baetas lusitanas, entre outros. Torres trazia tudo do Uruguai em carretas, e algumas coisas de Pelotas, como era o caso dos aperos de prata e dos metais finos, adquiridos da firma Scholberg & Silva. Sua casa assinala a maioridade do comércio pedritense. Torna a aldeia definitivamente útil aos grandes estancieiros, que deixam de abastecer-se em outras praças - Montevideu, Pelotas e mesmo Bagé, sede do município.
Seu estabelecimento, rodeado de árvores, com uma avenida de álamos no lado direito, transforma-se rapidamente no mais importante ponto de encontro da região. O comerciante-anfitrião promovia "califórnias" - pencas semanais, atraindo os grandes proprietários rurais, que passam a encontrar-se com maior frequência, para charlar, beber, jogar e fazer negócios. Além de dar pousadas eventuais, Torres hospedava gente famosa, de paz e de guerra. O próprio general Osório, o Marquês do Herval, seu amigo, aparecia às vezes para veranear. Conta a tradição que Torres multiplicara a fortuna devido a seu próprio trabalho, é evidente, mas graças, sobretudo, ao Baile dos Anastácio, realizado durante um mês na Estância de Vitor Anastácio. Como os mantimentos mais graúdos eram todos comprados em sua casa, quando acabaram as danças, dizem, Anastácio estava Pobre e Torres muito rico. A casa do passo foi, também, a sede do vice consulado do Uruguai, o que revela e confirma a importância estratégica da localização da casa de Ramón Antonio Torres.
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