Silvio Bermann


 Poeta, escritor, declamador, jornalista, natural de Santo Antônio da Patrulha, conhecido e reconhecido em todos os meios tradicionalistas pela emoção que consegue transmitir em suas interpretações de poesias como “Ave Maria do Peão” – de sua autoria, e “Que diacho, eu gostava de meu cusco” – de Alcy Cheuiche, ODILON RAMOS foi o convidado ilustre de Dom Pedrito durante a Semana da Paz promovida pela Coordenadoria Municipal de Tradicionalismo e Departamento de Cultura da prefeitura. Ele esteve na cidade na terça-feira passada (26), pelo mérito e competência do CTG Rodeio da Fronteira, comandado pelo patrão Jairo Madruga e maior dono Carlos Reinaldo Fonseca, entidade que subsidiou a vinda de Odilon nesta oportunidade.

 Tive o privilégio de conhecer pessoalmente e até entrevistar esse grande artista, durante meu programa pela Rádio Upacaraí, confessando-me admirador de seu talento e trabalho. “Não sou um pajador (ou ‘payador’)”, revelou-me, explicando que a pajada é uma poesia de improviso e ele costuma decorar e interpretar as letras que compõe ou mesmo as de terceiros que incorpora ao seu repertório. Mas, convenhamos, que extraordinária carga emocional esse patrulhense consegue impor às suas interpretações!

 Odilon Ramos é, assim, cria de suas próprias emoções e consequência de sua história de vida. Quando ele ainda era guri, contou-me, seu pai desenvolveu uma enfermidade que foi contraindo sua musculatura, ao ponto de ter enorme dificuldade para escrever seus versos no papel que colocava sobre um livro grosso disposto nos seus joelhos. Ali, naqueles rabiscos, Odilon foi alfabetizado já com a fina flor da poesia com que seu velho lhe apresentava o Rio Grande, esta pátria de cavalos, cuscos, geadas, campereadas, peleias e valentes. Não poderia ter sido falquejado melhor. O guri se transformou em homem de fibra e talento artístico que nos brinda hoje na sua voz grave e, por isto, não menos suave ao cantar as coisas de nosso Rio Grande.

 Odilon, na noite daquela terça-feira, no CTG Rodeio da Fronteira, falou de paz em suas diversas concepções - filosóficas, religiosas, existenciais -, até arrematar sua palestra, que durou pouco mais de uma hora, referindo-se à Paz do Ponche Verde, que pôs fim à Revolução Farroupilha no dia 1º de março de 1845. “O que de melhor pode haver numa guerra – se é que existe algo bom numa guerra -, é a paz. E isso vocês tiveram aqui, em Dom Pedrito”, sentenciou.

 Na sequência, foi servido um churrasco com acompanhamentos enquanto, no palco, sucediam-se shows com Vilson Santana Pina e Cícero Fontoura (Carancho). Cultura de ponta, companhia de bons amigos, comida gaudéria capitaneada por ótimo churrasco, enfim, não faltou nada.

 Parabéns ao Rodeio da Fronteira. Abraço fraterno a Odilon Ramos, meu novo amigo que conseguiu referir-se assim a Nossa Senhora, fruto de minha maior devoção: "Ave Maria/ primeira prenda do céu/ contigo está o Senhor, na estância maior/  tu és bendita entre todas as prendas e bendito é o piá que trouxeste ao mundo, Jesus/ Maria, mãe de Deus e mãe de todos nós/ roga pela querência e pelos gaudérios que aqui moram/ nesta hora e no instante da última cavalgada". Amém!

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