Cavaleiros do Ponche Verde - eternos guardiões da Chama Crioula


 Eles não são um grupo de tradicionalistas comuns, visto que poucos seriam capazes de fazer o que eles fazem. Desde 1996, portanto uma vez ao ano, eles deixam para trás o trabalho, a família, o conforto e partem, na época mais fria do ano, para onde tiver que ir, para acompanhar o acendimento da Chama Crioula, um dos maiores símbolos do povo gaúcho, e trazê-la até os pampas pedritenses.

 Essa tradição teve início há aproximadamente 70 anos atrás, em um gesto quase que improvisado, quando um grupo de jovens estudantes liderados por Paixão Côrtes, em 1947, capturou, com um cabo de vassoura, uma centelha da pira da pátria, no Parque Farroupilha, e carregou pelas ruas da capital.

 O gesto simples acendeu a autoestima do povo gaúcho e passou, daí em diante, a representar o orgulho de ser gaúcho.

 Nós conversamos com o coordenador do Grupo Cavaleiros do Ponche Verde, Albino Rodrigues - Mingau, que nos contou um pouco de como vem sendo a jornada deste ano. Foi na segunda-feira passada (20), e escolhemos um horário em que provavelmente eles estivessem em uma parada, no que tivemos sorte. Estavam adiante de Cruz Alta, onde pernoitaram na noite anterior. Este ano, eles estão em 15 cavaleiros, mais o pessoal de apoio, é claro. Ao todo, 25 animais se revezam na cavalgada. Além dos desafios naturais de um percurso como este, como o cansaço das pessoas e dos cavalos, as intempéries , a escassez de patrocínio, por exemplo, a distância, este ano foi, sem dúvida, um dos maiores desafios, visto que a Chama Crioula foi acessa no dia 11 de agosto, na distante Iraí, cidade que faz fronteira com Santa Catarina, a quase 600 km de Dom Pedrito, percurso que deve variar um pouco, haja vista que os roteiros escolhidos são essencialmente rurais. Mas todo esforço é recompensado pelo sentimento de ser o mensageiro, o portador do símbolo maior da Semana Farroupilha, além de cruzar por belas paisagens que só uma marcha a cavalo é capaz de proporcionar.

 A distância percorrida a cada dia também varia, isto em decorrência do lugar onde irão pernoitar, mas fica em torno de 25 a 35 km por dia. 

 O roteiro e as pousadas foram previamente escolhidos, geralmente propriedades rurais ou entidades tradicionalistas. Muitas cidades já ficaram para trás, entre elas Frederico Westphalen, Seberi, Palmeira das Missões, Santa Bárbara do Sul e Cruz Alta. No dia em que nossa reportagem conversou com o grupo eles estavam seguindo para Tupanciretã, e daí para Julio de Castihos, Boca do Monte, São Martim da Serra e depois São Gabriel. A previsão é de que cheguem em Dom Pedrito nos primeiros dias de setembro, isso se o clima contribuir, o que vinha acontecendo até então.

 Quando perguntamos a Mingau qual era o sentimento de ser um participante deste grupo de valentes, um tom de emoção tomou conta da sua voz: "É tudo", esta foi a palavra em que ele resumiu o que sentem no íntimo aqueles que percorrem as estradas do Rio Grande carregando a centelha da tradição. A cada parada para pernoitar, uma demonstração maior que a outra por parte de quem os recebe, numa atitude tradicionalmente encontrada no povo gaúcho que se acostumou, ao longo das décadas a dar pousada a quem precisa. À noite, além de descanso para os cavalos e cavaleiros, é a hora de alegria, de música e cantoria. Depois, o merecido sono para, no dia seguinte, após um café reforçado, seguir viagem.

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