A Operação Carne Fraca, a falta de bom senso e o pânico do pecuarista

 No fim de semana passado foram divulgadas notícias sobre a Operação Carne Fraca da Polícia Federal, que causaram um alvoroço, principalmente nas redes sociais.

 Como sempre, há muitas teorias e achismos sobre o assunto, mas o fato é que ainda não sabemos muito bem (pelo menos até o dia que escrevi este artigo) o que realmente foi encontrado e quais são as irregularidades, só temos ciência de que provavelmente há algumas coisas erradas.Na sequência vieram notícias de alguns “embargos” às carnes brasileiras. China, União Europeia, etc,. Mas devem ser apenas para maiores esclarecimentos, a princípio. No mesmo momento começaram a surgir vídeos, áudios e artigos falando barbaridades sem nexo algum, com gente que não tem noção alguma de como os processos funcionam. Teve de tudo, gente falando que trabalhou em frigorífico e sabia que isso acontecia há muito tempo e durante o carregamento morriam 80-100 bois, e depois de 3-4 horas já estavam desfigurados e tinham a carne aproveitada em uma caldeira gigante. Quem tem pelo menos um conhecimento raso sobre carregamento de gado, sabe que para morrer um animal, este já tem que estar muito fraco e debilitado, ou muito apertado com um motorista que esteja indo rápido demais a ponto do caminhão balançar muito, daí uma queda pode acarretar em pisoteio pelos outros animais. E nada disso é comum, principalmente em gado gordo, que geralmente é forte e sadio. Imaginem morrer 80-100 por carregamento, calculem o tamanho deste carregamento.

 Teve outro de uma conhecida jornalista, com boas intenções, mas argumentos típicos de alguém que não sabe o que está falando, puxando mais para o lado político que para o lado técnico de esclarecimentos. Também não ajudou nada, falou muita bobagem. Isso gera muita audiência, as pessoas acabam compartilhando e concordando com alguns absurdos, principalmente as pessoas que não sabem nada sobre os processos e não são da área. Mas também vi colegas do agro compartilhando, e estas têm obrigação de saber o que estão reproduzindo.

 A todas as pessoas que ajudaram a espalhar estas asneiras, peço mais cautela, procure saber se é verídico, se as informações procedem, pois além de prejudicar sua própria imagem, prejudica todo um setor que trabalha duro para produzir alimentos. Ninguém nega que há irregularidades, que devem ser apuradas e os responsáveis punidos, porém, mais responsabilidade com o que se diz por aí.

O mercado do boi

 Isto teve impacto imediato no mercado do boi, que abriu a semana com preços bem abaixo do fechamento da semana anterior, mas devemos ter cautela neste momento tão delicado.

 Durante uma ou duas semanas não saberemos se haverá impacto real nas cotações do mercado do boi, e muito menos qual a intensidade. Tudo que for afirmado neste momento pode ser encarado como especulação ou terrorismo para aumentar a pressão.

 Agentes-chave do mercado do boi relataram que no dia seguinte em que começaram as notícias, houve um movimento de pecuaristas ofertando gado acima do normal, considerando que era fim de semana. Isto provavelmente foi um movimento de pânico e receio que uma crise instantânea se instalasse no setor, da noite para o dia, que acabou colaborando para mais pressão nas cotações.

 Cada um pensa uma coisa sobre esses fatos, uns acreditam que o preço vai cair mais, outros que voltam ao normal nas próximas semanas, o mais correto é esperar para ver qual a reação real do mercado e tomar decisões baseadas em fatos, não em boatos e fazendo o movimento de manada apavorada. Quanto maior esse movimento, mais intensa será a queda antes mesmo de saber qual será a realidade do mercado. Aguardemos para poder analisar melhor nos próximos dias.

Dúvidas entre em contato pelo e-mail renato@lanceagronegocios.com.br ou pelo telefone (53) 9 9995-2790
Por Renato Bittencourt

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